sábado, 25 de setembro de 2010

Mulheres do pote, da lata, mulheres da água.


Os longos períodos de secas na Região Nordeste, são provocados por um problema climático. Uma afirmativa antiquada, atemporal, que ninguém há de contestar, e que no Nordeste inteiro todo mundo está careca de saber. Uma situação que cria momentos vexatórios e humilhantes, de dificuldades sociais para as populações mais distantes dos grandes centros urbanos.

Os inconvenientes para se viver numa terra assim, problemática, afetada pelo baixo índice pluviométrico, que transforma em flagelos sociais populações inteiras, causa problemas aparentes, difíceis de serem resolvidos, muitos por omissão dos poderes constituídos, que há séculos transforma a paisagem e afeta os seres que dela vivem e sobrevivem. Nesses períodos de escassez de chuvas, a falta de água nos municípios do interior sertanejo torna ainda mais difícil a sobrevida, piorando a situação de quem mora nos lugares mais afastados. Se tudo se torna difícil para o homem, a problemática afeta sensivelmente o desenvolvimento da agricultura e a criação de animais, causando danos irreparáveis à economia nordestina, provocando o desaparecimento de recursos financeiros na região, gerando fome, miséria e desespero ao seu povo.

De cara com essas dificuldades e a espera de soluções, os habitantes de lugares mais remotos  do Nordeste, se viram como pode para tentar sobreviver, como por exemplo, andar léguas e léguas, durante horas e horas sob o sol escaldante de 38 a 40c, a um calor forte, para adquirir um pouco d'água, seja em que lugar for. Às vezes quando encontra um poço com o precioso líquido, o mesmo ou é sujo demais ou está contaminado, com a água imprestável para o consumo humano.

As fotografias acima espelha essa realidade nua e crua, são um retrato desse problema crucial, onde geralmente as mulheres são as principais vítimas dessa conjuntura social. Como se ver, as fotografias mostram "elas" carregando água de um dos açudes - o "Lagoa do Arroz", da região de Cajazeiras. Uma água que certamente, como revela o cenário, é precária, sem nenhum tratamento, de péssima qualidade e imprópria para o uso doméstico. Uma água que pode trazer graves doenças que poderá afetar a saúde daqueles que vão consumir.



domingo, 12 de setembro de 2010

Zé do Norte cantando "LUA BONITA"

Alinhar ao centro
Cena do Filme "O Cangaceiro" do cineasta Lima Barreto, onde
aparece (uma única vez) o cantor e compositor cajazeirense
Zé do Norte,
cantando e tocando a música
Lua Bonita.

Letra da Música "LUA BONITA" - Composição: Zé Martins/Zé do Norte

Lua bonita, / Se tu não fosses casada / Eu preparava uma escada / Pra ir no céu te buscar / Se tu colasse teu frio com meu calor / Eu pedia ao nosso senhor / Pra contigo me casar.

Lua bonita / Me faz aborrecimento / Ver São Jorge no jumento / Pisando no teu clarão / Pra que cassaste com um homem tão sisudo / Que come dorme faz tudo, dentro do seu coração?

Lua Bonita, / Meu São Jorge é teu senhor, / E é por isso que ele "véve" pisando teu esplendor / Lua Bonita se tu ouvisses meus conselhos / Vai ouvir pois sou alheio, / Quem te fala é meu amor / Deixa São Jorge no seu jubaio amuntado / E vem cá para o meu lado / Pra gente viver sem dor.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Cinema Alternativo em Cajazeiras: De Eutrópio a Zé Sozinho.

por: Claudimar Ferreira


Zé Sozinho, de mambembe as salas improvisadas na zona sul de Cajazeiras.

As primícias do cinema em Cajazeiras revelaram uma época mágica onde o rudimento das exibições era peculiar ao tempo, ao momento vivido e aos sentimentos e as paixões que os seus figurantes envolvidos, tinham por essa arte de sonhos, ilusões e magia. 

Por esse histórico túnel do tempo, desde que aportou na cidade o descendente de libanês João Bichara, responsável pela implantação, em 1926, do cinema moderno em Cajazeiras, a trajetória dos exibidores em nossa cidade não pareceu diferente de outros mais, em outros lugares. Teve também os sues personagens emblemáticos que vislumbrados pela magia que os fotogramas revelavam, fizeram de tudo para viver e oferecer ao público cajazeirense a oportunidade de ser parte desse entretenimento que até hoje encanta os olhos de gerações por ai a fora.


Seu Eutrópio Cartaxo - Um dos primeiros exibidores. 
No inicio, atuou na Rua Dr. Coelho e na 
cidade de Ipaumirim, Ceará. 
EUTRÓPIO

Afirmam os mais antigos frequentadores das diversas salas de exibições que havia em Cajazeiras, que a primeira sessão de cinema na cidade se deu na antiga Ação Católica - Hoje 9ª Região de Ensino do Estado, onde já funcionou nos anos 70 a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Cajazeiras (FAFIC). Mas a história lembra, que também uma figura bem conhecida de todos, chamado de Eutrópio, que segundo rumores costumava ficar de cueca durante as projeções de suas películas, teria sido um dos primórdios exibidores a improvisar salas de cinema pela cidade.

Eutrópio, que era um pouco obeso, tinha uma fisionomia que o tornava bem engraçado. Uma virtude que contribuía para atrair o público as suas exibições. Ele se fixou por um bom tempo com seu projetor, em um dos diversos locais por onde atuou que ficava nas proximidades de um chafariz municipal, em um dos prédios que pertencia ao Senhor Luiz Barbosa e que posteriormente foi também a sede do Banco do Brasil. Tudo era improvisado. Eutrópio passava os filmes numa cabine de madeira montada sobre uma plataforma de ferro onde ele subia com dificuldades com os rolos de fitas.

Dizia às pessoas que costumeiramente assistiam a seus filmes, que os mesmos eram exibidos pelo próprio Eutropio e, que a sala era uma sauna, um calor insuportável. As cadeiras eram de madeiras e as imagens projetadas em um tecido de algodãozinho, eram trêmulas e não demonstravam sincronia entre a voz e gestos que os personagens faziam. Além disso, garotos, muitas vezes, atrapalhavam a projeção passando na frente do foco dos projetores, vendendo pipoca, picolé e balas. 

De vez em quanto, alguém aparecia na porta do cinema procurando e perguntando se o seu filho estava na sala de exibição. Comentavam que Eutrópio chagava a dormir enquanto os filmes passavam e que quando a fita quebrava era uma gritaria tremenda dentro do cinema, apressado e acuado, o mesmo emendava a fita com pedaços de outros filmes, quando voltava à exibição, o público delirava batendo nas cadeiras deixando a sala uma "zorra" total. Era uma loucura dentro do cinema.

ZÉ SOZINHO

Pernambucano de Pageú das floresZé Sozinho chagou à Cajazeiras como sempre aterrissou em outros lugares por onde andava, carregando em uma bicicleta, junto com o seu projetor de 16 mm, latas de fitas que variavam dos temas religiosos aos velhos faroestes, bem como, os esquecíveis filmes de Tarzan e os clássicos Sansão e Dalila, O Ébrio e as produções musicais da Cinédia. Para ele, que começou a viver essa paixão pelo cinema logo cedo, qualquer lugar era ideal para uma projeção de cinema. Podia ser no meio da praça, debaixo da ponte, em uma rua deserta, no tabuleiro da caatinga, num galpão abandonado, no adro de uma igreja, tudo era possível.

Na sua passagem por Cajazeiras, Zé Sozinho instalou sua visionária maquinaria de sonhos nas proximidades da Camilo de Holanda - mais precisamente em um galpão que ficava de frente para uma pracinha construída pelo então prefeito Antônio Quirino de Moura, intermediada pelo vereador na época João de Manoelzinho. No local, onde durante o dia era uma oficina mecânica e para ele, à noite, uma sala de cinema, Sozinho exibia seus filmas. O calor do teto de zinco e o cheiro do óleo e da graxa que existia no lugar, não nos desanimavam. Lembro-me muito bem que neste espaço, Zé Sozinho exibia filmes variados, cujas sessões podiam ser para menores de 14 anos, 16 e até 18 anos, embora nada fosse proibido na sua sala improvisada, pois adolescente de 14 anos, via filmes para maiores de 18 anos. 

Pessoas que viveu próxima a Zé Sozinho, costumava dizer que ele era uma cara ágil, disposto e inteligente. Nas suas andanças pelas cidadezinhas do interior da Paraíba, Ceará e Pernambuco, chegou a subir em uma árvore pra montar o seu alto-falante e logo abaixo instalar o seu velho projetor. E assim, o mesmo completava a alegria. Suas películas eram uma miscigenação de gostos, onde se podiam ver ao mesmo tempo filmes que começavam como as antigas chanchadas da Atlântida e finalizava com os filmes de Teixeirinha. O Dólar Furado com pedaços de humor dos comediantes Oscarito, Zé Trindade e Grande Otelo. A Paixão de Cristo versos Roberto Carlos em Ritmo de Aventura e Besouro Verde. E ai por diante, tudo se resumia na sua forma de entender e de como para ele, devia ser o cinema.