terça-feira, 9 de abril de 2013

A Caatinga Nasce.

              Escreveu: Mariana Moreira


O som mavioso dos sabiás anuncia à presença da vida que se renova com as primeiras chuvas que emprestam uma roupagem mais colorida e alegre a paisagem trazendo uma nova sonoridade ao canto dos pássaros e um tom mais vibrante a fala humana. O verde que se espraia por morros, baixios, grotas e ribanceiras espanta a melancolia que se alimenta do cinza calcinante das secas. Esse cenário me contagiou no clima de recolhimento que marca a Semana Santa cujo feriado passei em Impueiras, assistindo a volta das chuvas que engravidam o riacho com suas águas barrentas e vestem de neblina e névoa o Serrote do Quati.

Esse cenário de som de pássaros e verde esfuziante somente é possível porque, nos últimos anos, assumimos o compromisso em preservar no entorno de nossa casa em Impueiras plantas nativas em áreas que, anteriormente, eram anualmente devastadas para o cultivo do algodão e de outras culturas de subsistência. Naturalmente, quando saem de cena as brocas e coivaras, começam a brotar baraúnas, aroeiras, marmeleiros, mufumbos, angicos, juazeiros, baraúnas, pau darcos e uma profusão de plantas típicas da caatinga que, numa impressionante harmonia e interação, vão cobrindo o solo escavado e trazendo fertilidade e vitalidade a terra. No mesmo compasso, começa a crescer a população de saguis, galos de campina, abre-fecha, rolinhas, três potes, sabiás, casacas de couro, joãos de barro e tantas outras aves que, nativas ou migratórias, abrigam-se nos ramos das árvores, fazem seus ninhos e garantem a continuidade das espécies. Nos beirais e frechais da casa rouxinóis constroem seus ninhos e, entoando sons inebriantes, antecipam a continuidade da vida nos filhotes que anunciam com muito barulho a chegada do alimento.

Vendo este cenário percebi como é simples preservar a natureza. Não carecemos de projetos mirabolantes ou programas dispendiosos para garantir que uma árvore brote, que uma ave monte seu ninho e perpetue a espécie, que um sagui transite livremente entre galhos e ramagens fazendo traquinagens e roendo resinas e frutos. A natureza é pródiga em aliviar as feridas que o homem lhe provoca. Ela tem um impressionante poder de regeneração e se recompõe no mesmo ritmo do abandono de práticas de devastação e de agressão. Uma coivara a menos sempre se converte em sementes a mais que, tangidas pelos ventos, trazidas pelas aves, garante a reprodução de novas espécies. Nada mágico ou mirabolante. Apenas o curso natural da vida que, sem interrupção ou intervenção, segue seu traçado entre o equilíbrio das espécies.

Para mamãe que, ao longo da vida, sempre alimentou e, sobretudo, preservou galos de campina, sagüis, três potes e tantos gatos, cachorros, bois, galinhas e filhos numa harmonia entre gente e bichos.

Mariana Moreira, 
Mora em Cajazeiras, é Professora Universitária e Jornalista.

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