domingo, 26 de maio de 2013

Major Higino Rolim e seu fuzil, segundo Frassales.



O fuzil do major Higino Rolim

Por Francisco Frassales Cartaxo

Cresci vendo um monte de rifles na casa de meu pai. Rifles e munição guardada em velho saco de estopa. Tantino gastava balas com marrecas, pato e galinha d’água. Os rifles papo-amarelo, leves, cano curto, fáceis de transportar, eram os preferidos dos cangaceiros. E o fuzil? Ao tentar usá-lo quase fui ao chão com o sopapo da coronha no ombro. Tantino gostava de experimentar o fuzil em jornadas de tiro ao alvo no sítio Prensa e outros lugares próximos a Cajazeiras.

Essas armas foram herdadas por Cristiano Cartaxo do seu pai, o major Higino Rolim. Cada uma tinha sua história que se foi apagando da memória ao longo dos anos. Menos a história do fuzil. Segundo meu pai, ele fora usado por Romeu Menandro da Cruz, que trabalhava na farmácia do major Higino, no dia em que Sabino Gomes atacou Cajazeiras. Romeu teria atingido um dos companheiros de Sabino, que morreria mais tarde. Meu pai sonhava em ver aquele fuzil exposto num museu de preservação de lembranças históricas. Boas ou não. O golpe de 1964, no entanto, deu ao sargento Barbosa de Carvalho autoridade suficiente para requisitar, (em nome do Comando Militar), o velho fuzil F-8, quem sabe, para compor o estoque do Tiro de Guerra...

Por que o major Higino tinha essas armas? Era o costume da sua época, tempo de milícias privadas, de força policial impotente, dos coronéis donos de arsenais e de cabras arregimentáveis para a defesa de seu patrimônio material e, também, para ostentar poderio político na conquista e controle do poder local. O major Higino Gonçalves Sobreira Rolim, nascido (1852) em Lavras, integrava o Partido Liberal, chefiado em Cajazeiras pelo Comandante Vital Rolim e, mais tarde por seu filho, o coronel Sabino Rolim. O major Higino foi vereador, prefeito, deputado estadual, antes e depois de proclamada a República, tendo sido ainda promotor público, segundo Deusdedit Leitão, como decorrência de sua condição “rábula ativo afeito aos meandros das leis”.

Apesar dessa incursão na política, o major Higino se enquadra melhor na vertente intelectual da família. Filho do professor cearense Francisco Gonçalves Sobreira e Josefa Maria da Conceição, (sobrinha do padre Rolim), portanto, sobrinho-neto do padre Rolim, com quem aprendeu grego, latim, francês e passou a ensinar no famoso colégio. Em dados biográficos publicados na década de 1950, Deusdedit Leitão, referindo-se ao major Higino Rolim, afirma:
“Notabilizou-se pelos seus conhecimentos da língua grega, cuja cátedra ocupou em substituição ao Padre Rolim. Versado em literatura, não se cansava de saborear Virgílio, Horácio ou o opulento Homero que costumava recitar para deleite de seus pupilos”.

Recitava na sala de aula e receitava na Botica! Foi o primeiro farmacêutico prático em Cajazeiras, chance- lado por ato formal do imperador Pedro II. Por isso, o major Higino era chamado de “doutor Gino”. Ou “tio doutor”, como a sobrinha (que saudade!), Marilda Sobreira, costumava tratá-lo, ao recordar episódios antigos, vividos por seu pai, o major Epifânio Sobreira, aquele do casarão onde hoje funciona o CAPS II, ao lado da parede do Açude Grande.

Não conheci o major Higino. Ele morreu em 1931, perto de completar 79 anos. Sua lembrança, porém, sempre foi uma constante em minha vida de criança, à vista dos rifles papo-amarelo e do fuzil histórico. E de uma espada manchada de sangíiue. Espada? A espada fica para mais adiante.

Família Cartaxo - Cristiano Cartaxo e os Filhos



fonte: historiacajazeiras.blogspot.com.br

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