terça-feira, 9 de julho de 2013

A consagração de Rosilda Cartaxo na carta de Câmara Cascudo.


A escritora cajazeirense Rosilda Cartaxo, após o lançamento do seu livro Estrada das Boiadas, em 1975, enviou um exemplar do mesmo para o escritor Luís da Câmara Cascudo. Teve dele uma grata surpresa. Recebeu do escritor rio-grandense a seguinte carta:

“Rosilda Cartaxo”, ilustre confrade:

Seu livro forte e claro levou-me a rever a paisagem áspera e linda da ESTRADA DAS BOIADAS, que ficara nos meus olhos-meninos. Em 1910 cavalguei de Mossoró a Sousa, vendo minha mãe equilibrando-se no silhão exibindo a longa “montaria”, e mesmo viajando em liteira. Duas vezes estive no Brejo das Freiras, tendo então a casa para os viajantes e um rancho cobrindo a fonte, esgotada depois do banho. Passávamos por S. João do Rio do Peixe, tomando café com o Padre Cirillo e ouvindo o escrivão Formiga declamar versos sertanejos, inesquecíveis nos meus 77 anos reais. Quarenta anos depois voltei a Sousa, para despedir-me, vindo de Mossoró em automóvel-de-linha. Onde estavam as figuras poderosas de 1910, os Marís, Nazarés, Sás? O cônego Bernardino? O grande páteo silencioso da Matriz? Fui professor de História meio século. Deduza o encanto do seu livro ressuscitando as tradições ouvidas nas vozes familiares, questões de terra, valentias, crueldades afoitas, festas sonoras, a mancha sangrante de Antônio Silvino, os Dantas feudais, os cantadores invencíveis, os vaqueiros derrubadores, o gado ainda crioulo, entendendo a melopéia dolente do aboio, indecifrável às orelhas dos zebus e cararus indianos, gado de tração, que os dentes brasileiros promoveram às honras de um alimento... Quanta motivação sua vive em mim como uma permanência sentimental... Na HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE e NOS NOMES DA TERRA fui pesquisador devoto das mesmas sugestões. Muito grato por lembrar-se de mim com seu livro de História, ternura e saudade. Minhas tias consultaram José de Moura. Devo ter ouvido a sonoridade fanhosa e lenta de FÉLIX nas tardes lentas de S. João do Rio do Peixe. Uma boa parte dos meus, dorme no cemitério de Sousa... Não apenas li, mas vivi esta ESTRADA DAS BOIADAS, roteiro dos seus e meus avós. Deus a abençoe".

Grato adm. Câmara Cascudo.

A carta de Câmara Cascudo valeu como uma consagração à autora iniciante e um incentivo a continuar pelos caminhos da literatura,  pois no mesmo ano, a escritora lançou uma plaqueta intitulada Barra do Juá, dedicada a São João do Rio do Peixe que ela tanto idolatrava a ponto de ficar enraivecida quando seu nome foi mudado para Antenor Navarro. Nesse trabalho avulta a figura do Padre Joaquim Cirillo de Sá, grande líder da região.

Em 1981, novamente Rosilda se debruça sobre a terra querida, onde passou seus verdes anos, para escrever um trabalho que a denominou de A Vila em Festa, uma homenagem à passagem do centenário da elevação de vila a cidade.

Em 1989, editado pelo Centro Gráfico do Senado Federal, lançou As Primeiras Damas, uma alusão as consortes dos administradores paraibanos. O livro é um elogio à mulher paraibana que dividiu com o marido a difícil arte de administrar nosso Estado, incluindo aí figuras do período colonial, como a Viscondessa de Cavalcanti, as Baronesas do Abiaí, de Mamanguape e de Mamoré, até o período republicano, com Dª Mary Sayão Pessoa, esposa do presidente Epitácio Pessoa, seguindo-se com o registro de Joana Batista de Figueiredo Neiva, Amanda Brancante Machado, Veriana da Cunha Nóbrega, Maria Isabel Figueira Machado até chegar a Glauce Maria Navarro Burity.

Mulheres do Oeste - seu último livro publicado em 2000, Rosilda destaca as mulheres pertencentes a tradicionais famílias de Cajazeiras, São João do Rio do Peixe e de Sousa, começando por sua mãe, Dª Maria Cartaxo Dantas. O livro teve repercussão não só naquela zona da região sertaneja, como também em outros Estados para onde emigraram os descendentes das valorosas damas do oeste paraibano. 

A escritora antes de morrer deixou em arquivo impresso o livro O Sacristão, lançado em 2005, na cidade de São João do Rio do Peixe. Ajuntado aos escritores contemporâneos regionalistas de agora, Rosilda, assim como Ivan Bichara, enaltece e enche de orgulho a nossa literatura.

Cleudimar Ferreira



referencias: IHGP

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