quinta-feira, 12 de junho de 2014




Centenário de Dom Zacarias

P r o f .  J o s é  A n t o n i o



O cantor e compositor Luiz Gonzaga costumava dizer que uma das cidades que mais economizava aplausos, era Cajazeiras. E em suas passagens por Cajazeiras, com destino ao Crato, sempre visitava o estabelecimento comercial de meu pai, onde era recebido com festa e ao se despedir levava consigo alguns litros de conhaque Macieira, cortesia da casa. Do velho Lua, mais de uma vez ouvi-o falar sobre a frieza de Cajazeiras e a contenção de seus aplausos.

Esta mesma opinião tinha Dom Zacarias com relação a sua querida e amada cidade, que segundo ele só não fez nascer, mas se considerava dela filho, pois sempre se recusou a receber o titulo de cidadão cajazeirense e nunca foi a Assembleia Legislativa receber a cidadania paraibana, aprovada pela unanimidade de seus deputados, porque também nunca se considerou cearense.

Dom Zacarias, que era Rolim da gema, falava da sua própria família ao dizer que Rolim “não gosta de aplaudir, mas de ser aplaudido”. E as opiniões de Luiz Gonzaga e Dom Zacarias são mais do que verdadeiras, senão vejamos: o nosso “profeta” Zacarias, como o chamava seu irmão em Cristo, Dom Helder Câmara, neste dia 13 de junho, se vivo fosse, estaria completando 100 anos do seu nascimento e quais os aplausos e as homenagens que sua terra está lhe tributando?

O legado de Dom Zacarias é imensurável e transcendental e para justificar basta citar dois grandes feitos de seu laborioso episcopado: a implantação do ensino superior em nossa cidade, através da criação da Faculdade de Filosofia e a Rádio Alto Piranhas, dois importantes veículos de difusão de conhecimentos, cultura, educação e diversão e que têm elevado o nome de nossa cidade além de suas fronteiras.

Foi um cidadão extremamente preocupado com a formação de novos padres e foi também pensando nisto que trouxe no bojo da escola de ensino superior o Curso de Filosofia, com a finalidade precípua de formar os seminaristas de sua diocese e numa época em que se fecharam quase todos os Seminários Menores do Nordeste, Dom Zacarias, conseguiu manter a duras penas, o Seminário Nossa Senhora da Assunção, com suas portas abertas e com um razoável número de alunos.

Preocupava-se muito com a formação de seus padres e quase todos eles passaram pelos bancos escolares de grandes centros educacionais de Roma, onde iam estudar Teologia e Filosofia.

Quando buscou uma concessão de rádio para Cajazeiras, o fez através de Dom Hélder Câmara, que era amigo do presidente JK e para isto bastou apenas um bilhete do Arcebispo de Olinda e em poucos dias Cajazeiras ganhava a sua primeira concessão, mas com as dificuldades financeiras da Diocese, somente cinco anos depois foi para o AR e a missão principal da emissora era para evangelizar e educar e a emissora transmitiu durante anos cursos dirigidos principalmente para a zona rural.

Pesa sobre os seus ombros uma acusação de ter sido o causador da saída dos Padres Salesianos de Cajazeiras, em 1959, mas a verdade dos fatos é a de que ninguém mais do que ele lutou para que eles não deixassem a direção do velho e tradicional Colégio Padre Rolim, incluindo aí uma viagem à Itália para falar com o Prior dos Salesianos na tentativa de que permanecessem em Cajazeiras. Mas a verdade é que o Colégio estava com a matrícula muita baixa e não tinha como se manter em nossa cidade: era o advento do ensino público e gratuito, que até então era dominado em Cajazeiras, pelo ensino pago.

Dom Zacarias foi o responsável direto da vinda da Universidade Federal da Paraíba para Cajazeiras, quando, juntamente com o Padre Luis Gualberto de Andrade, transferiram todo o acervo da FAFIC para o recém-criado Campus V, tendo a frente o grande e inigualável reitor Linaldo Cavalcante de Albuquerque. Este foi um dos bens maiores do episcopado de Zacarias para os sertões do Nordeste, que carecia de ensino público e gratuito. Esta talvez seja o maior de todos os legados do nosso “Profeta”.

A Dom Zacarias, o grande Latinista e mestre exímio da língua portuguesa, na passagem do Centenário de seu nascimento, a nossa singela lembrança e o nosso imorredouro reconhecimento por tudo que fez por nossa terra querida e quem sabe um dia não seja alvo de nossos aplausos e de nossas homenagens ou mesmo uma estátua em praça pública?

Para o cidadão, que gostava de um charuto cubano, nossas saudades e nossas orações.


*artigo publicado na sua coluno no 
 jornal Gazeta do Alto Piranhas



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