quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

A arte de uma cajazeirense chamada Isa Aderne


por: Cleudimar Ferreira  

A gravadora Isa Aderne - oficina na UFPB


Entre as demais cidades da sua região, Cajazeiras sempre foi a que se mostrou mais atuante no campo da produção cultural. Seus artistas na linha do tempo, foram inteiros. Se mostraram perseverantes e comprometidos com o fazer artístico. Virtudes que fez serem destaques nas diversas linguagens que compõe o universo da arte.

Partindo desse princípio, me parece ser descabível qualquer contestação que se faça ou que desaprove esse legado social que a cidade adquiriu e vem mantendo com qualidade durantes décadas e mais décadas. No campo das artes visuais, por exemplo, essa herança é bem vasta. Basta uma investigação mais apurada para se descobrir as atuações de seus artistas, seja com os desempenhos dos nossos conhecidos representantes de hoje, seja com as atuações que fizeram seus artistas plásticos do passado. Dos que são visíveis e estão entre nós ou dos anônimos que não conhecemos e que não sabemos as suas histórias e a relação que esses estiveram com a arte.

Nesse contexto, merece destaque a gravadora, pintora, cenógrafa, restauradora e professora Isa Aderne Vieira Iaderne. Nascida em Cajazeiras, em 1923, Isa Aderme como é chamada, teve o seu momento áureo no campo da gravura nos anos 60, após estudar essa linguagem das artes visuais com Adir Botelho e ter sido orientada pelo também gravador Osvaldo Goeldi; bem como, anos atrás, em 1947, ser instruída na pintura de quadros, na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.

Canto da Sereia

Depois a artista se envereda pela xilogravura de cunho popular, refletindo em seus trabalhos os diversos aspectos da cultura nordestina, com destaque para os elementos oriundos da literatura de cordel, criando um paralelo entre a tradição popular e a realidade política dos anos 60, com obras carregadas pelo debate político, que oscila entre uma temática libertadora e o arbítrio. “Uma poética da resistência”, afirma Maria Luisa Luz Tavora.

Entre os anos de 1964 e 1968, foi professora de xilogravura na Escolinha de Arte do Brasil e em 1968, do Museu Histórico do Rio de Janeiro. Participou do Salão Nacional de Arte Moderna. Em 1973, participou em Havana, do I Concurso Latino Americano de Gravura. Em 1977, atuou como professora no XI Festival de Inverno da Universidade Federal de Minas Gerais.

Isa Aderne - em uma oficina para alunos na UFPB.

De 1978 a 1995, foi instrutora na Oficina de Gravura do Ingá; e, de 1984 a 1988, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. No ano de 1991, recebe o Prêmio Coca-Cola de Melhor Cenografia pela peça “Fala Palhaço”, do Grupo Hombu. Dedica-se especialmente a xilogravura, quando em 1994, passou a ensinar essa técnica na Oficina de Gravura do Sesc Tijuca.

Portanto, os caminhos percorridos por Isa Aderne a partir  o tempo da sua vivência em sua cidade natal Cajazeiras, desde que descobriu a vocação para arte, são os mesmos peregrinados pela artista por muitas cidades do Nordeste, pelos quais o seu pai mandado a serviço pelo antigo IFOCS - Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas: “o mesmo era engenheiro das secas”, também percorreu. Nesse intento, a fome, a miséria e as doenças como o tife, de certo modo, formaram o pano de fundo de sua experiência de mundo no sertão nordestino. Vaqueiros e cantadores de viola; o mítico Padre Cícero, amigo da família; a lembrança das capas dos folhetos de cordel, foram marcantes em sua obra e contribuíram como subsídios que influenciaram nas xilogravuras da artista cajazeirense. 


    gravuras e xilos da artista cajazeirense    
   

1. Escada II;  2. Oração, Ogum guerreiro manda-nos um dinheiro;  3. Meu crochê I   


Este é o meu sangue
Fruto Proibido
In Vino Veritas
Nuvem
Parém os Ventos I
Queremos
Viagem
  
              
Cronologia da Artista              

1. Sofrimentos de Cristo I; 2. Reivindicação de Classe. 

1938 – Mudou-se para o Rio de Janeiro, RJ.
1947 – Iniciou curso de pintura na Escola Nacional de Belas Artes, logo interrompido.
1960 – Retornou à Escola Nacional de Belas Artes, formando-se em pintura. Foi aluna de Ahmés de Paula Machado, com quem aprendeu a técnica litográfica.
1963 – Concluiu cursos de especialização em pintura e em gravura, este último com Adir Botelho.
1964-68 – Lecionou xilogravura na Escolinha de Arte do Brasil, Rio de Janeiro.
1986 – Ministrou curso em xilogravura em Salto, no Uruguai.
1968-69 – Foi professora de xilogravura no Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro.
1978-95 – Foi professora da Oficina de Gravura do Ingá, Niterói, RJ.
1984-88 – Foi professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
1991 – Recebeu o Prêmio Coca-Cola de melhor cenografia pela peça Fala Palhaço, encenada pelo Grupo Hombu.
1994 – Tornou-se professora de xilogravura do Serviço Social do Comércio, Rio de Janeiro.

















Realizou, entre outras, as seguintes exposições individuais:

1968 – Museu da República, Rio de Janeiro.
1968 – Mostras em Montevidéu, Salto e Tacuarembó, no Uruguai.
1970 – Rabat, Marrocos.
1973 – Galeria Mara, Londres, Inglaterra.
1974 – Teatro Carlos Gomes, Vitória, ES.
1985 – Escolinha de Arte do Recife, Recife, PE.
1992 – Trinta Anos de Gravura, Palácio da Cultura, Rio de Janeiro.
1995 – Espaço Cultural Serpro, Brasília.
2001 – Isa Aderne: xilogravuras, Instituto de Estudos Brasileiros, Universidade de São Paulo, São Paulo.
2006 – Núcleo de Arte Contemporânea da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB.

















Participou, entre outras, das seguintes exposições coletivas:

1961-73 – Salão Nacional de Arte Moderna, Rio de Janeiro.
1965 e 67 – Salão de Arte Religiosa Brasileira, Londrina, PR (prêmio aquisição na edição de 1965 e prêmio conjunto de obra na de 1967).
1965-69 – Salão Paranaense de Belas-Artes, Curitiba, PR (medalha de prata na edição de 1965 e prêmio aquisição na de 1967).
1966 – I Bienal Nacional de Artes Plásticas de Salvador, Museu de Arte Moderna, BA.
1967 – IX Bienal Internacional de São Paulo, Fundação Bienal de São Paulo.
1968 e 1970 – Bienal Americana de Gravura, Santiago, Chile.
1970 e 1973 – “Seven Printmakers from Brazil”, Washington, Estados Unidos.
1979 – I Bienal Ítalo-Latino-Americana, Roma, Itália.
1983 – 30 Anos de Instituto Cultural Brasil-União Soviética, Associação Brasileira de Imprensa, Rio de Janeiro.
1993 – XIII Salão Nacional de Artes Plásticas, Rio de Janeiro.
1994 – 90 Horas de Pintura, Museu Nacional de Belas-Artes, Rio de Janeiro, menção honrosa.
2006 – Investigações: a gravura brasileira, Galeria Itaú Cultural, Brasília, DF.

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fonte: poiesis.uff.br/PDF/poiesis11/Poiesis_11_isaaderne.pdf

2 comentários:

Antonio Sergio Barros de Almeida disse...

Conheci dona Isa Aderne, e o seu esposo Dr. Luiz Antonio Jordão, os mesmos moravam em Salvador e eu, venham procurando saber deles há muitos anos, somente ontem um amigo me ajudou como pesquisar, foi justamente o dia de 1 ano do falecimento de dona Isa Aderne. 04/02/2019. Fiquei muito sentido, e fiquei também muito pensativo, porque só ontem eu localizei algo sobre ela. Más com certeza ela esta em um bom Lugar. Deus seja Louvado.

Francisco Cleudimar F. de Lira disse...

Isa Aderne foi uma das grandes gravadoras desse país que não teve seu devido reconhecimento. Infelizmente!