sexta-feira, 13 de março de 2015

CAJAZEIRAS: A Tradição do Teatro Amador no Sertão.

por: Julieta Pordeus Gadelha  





A década era a de 30 quando alunos do Colégio Salesiano, em Cajazeiras, decidiram realizar pequenas encenações para lembrar datas comemorativas. Depois, veio a criação do TAC - Teatro de Amadores de Cajazeiras - sob a direção de Hildebrando Assis, e todo um movimento teatral que se consolidaria com uma sequência de espetáculos nos anos seguintes, a exemplo de “Mania de Grandeza”, “Feitiço da Vovó” e “Deus lhe Pague”. 


Por toda sua história e pela importância que representa para o movimento artístico paraibano, o TAC é uma referência histórica para o teatro amador de Cajazeiras e toda a região do sertão da Paraíba. Mas, antes mesmo da sua criação, há de se registrar um movimento artístico nos colégios da região, sobretudo quando se tratava de comemorações alusivas ao Dia das Mães, Dia dos Pais, Independência do Brasil (Parada de 7 de setembro) e a encenação do nascimento de Jesus no Natal. 

Esse movimento, no entanto, não tinha um caráter organizacional. Eram encenações espontâneas sem que houvesse uma agremiação ou entidade que as reunisse em um único ambiente. Isso só veio a acontecer com a criação do Teatro de Amadores de Cajazeiras por Hildebrando Assis. Quando Hildebrando deixou a cidade o TAC ganhou as mãos habilidosas e os cuidados de Íracles Pires, que hoje é o nome do teatro local. Ica, como era carinhosamente conhecida, assumiu a direção do Teatro de Amadores com a experiência de quem estudou arte dramática no Rio de Janeiro.


Da seriedade do trabalho de Ica o teatro cajazeirense conheceu novas formas de interpretação e o movimento teatral na cidade começou a ficar mais forte. De sua autoria, Ica encenou a peça “Fui Eu, Mas Não Espalha”. Outros espetáculos marcaram época e evidenciaram a influência do seu aprendizado no Rio de Janeiro. Exemplo disso são as montagens dos espetáculos “Édipo Rei”, “O Auto da Compadecida”, “A Afilhada de Nossa Senhora da Conceição”, “Dona Xepa” e “A Dama do Camarote”.


A partir da década de 60 e durante toda a década de 70 a cidade assistiu a espetáculos montados por um novo grupo: o GRUTAC. Inicialmente, o grupo foi dirigido por Geraldo Ludgero e depois por Ubiratan de Assis. Do GRUTAC saíram montagens como “Explosão Nordestina” e “A Mulher e A Pauta”. Foi no ano de 1976 que o grupo alcançou seu maior reconhecimento, conseguindo arrebatar prêmios no Festival de Inverno de Campina Grande com o espetáculo “Aí”.

Com o passar dos anos e o nascimento de novas gerações de artistas, Cajazeiras foi se transformando em um dos mais importantes celeiros culturais da Paraíba. Somente nas artes cênicas destacam-se diretores e atores como Eliézer Filho, Roberto Cartaxo, Ubiratan de Assis e os irmãos Nanego, Soia e Buda Lira, além da atriz Marcélia Cartaxo, dirigida por Eliézer Filho no Grupo Terra e descoberta pela diretora de cinema Suzana Amaral, com que trabalhou no filme “A Hora da Estrela”, vindo a ser consagrada a melhor atriz do Festival de Cinema de Berlim em 1986.


Com este prêmio Marcélia entrou para a história do cinema nacional, sendo a primeira brasileira a receber o “Urso de Prata” de Melhor Atriz, feito repetido apenas mais duas vezes, pelas atrizes Ana Beatriz Nogueira, com o filme “Vera” e Fernanda Montenegro, pela sua interpretação no filme “Central do Brasil”.

A repercussão do prêmio garantiu a Marcélia Cartaxo convites para novos trabalhos no cinema e na televisão, onde integrou o elenco da novela “Mico Preto”, da Rede Globo, além de episódios de seriados da emissora como “Você Decide”. Hoje, Marcélia tem residência fixa no Rio de Janeiro, onde segue carreira de atriz com projetos para atuação no teatro, cinema e televisão.


Todo esse percurso trilhado por Marcélia Cartaxo teve início na brincadeira de um menino chamado Eliézer Rolim que no final dos anos 70, gostava de brincar de teatro no quintal de casa. Eliézer - na época era apenas um garoto interessado por teatro – criou um grupo tão infantil quanto seus participantes: era o Grupo Mickey de Teatro. Das brincadeiras de representar com lençóis, barbantes, latas e outros trecos participavam o próprio Eliézer, Marcélia, Nanego e Soia Lira, entre outros meninos e meninas cajazeirenses que encenavam dramas no sertão.


De Mickey, o grupo passou a se chamar Terra. Foi a partir daí, com o Grupo Terra, que o trabalho de Eliézer ganhou mais força e maturidade. Com o espetáculo “Beiço de Estrada”, já residindo em João Pessoa, Eliézer arrebatou vários prêmios para o teatro paraibano. Como um dos prêmios do Ministério da Cultura, o espetáculo foi incluído Projeto Mambembão de Teatro e viajou para uma série de apresentações em São Paulo. Foi nesta ocasião que a atriz Marcélia Cartaxo foi convidada pela diretora Suzana Amaral para fazer um teste para o filme “A Hora da Estrela”. Era, na verdade, a sua própria hora de brilhar. Era também o reconhecimento e a consagração do diretor Eliézer Rolim.

Hoje Eliézer é um dos mais respeitados e premiados diretores de teatro da Paraíba. Dentre seus espetáculos que receberam prêmios em Festivais Nacionais estão: “Os Anjos de Augusto”, “Sinhá Flor” e “Mamanita” (depois transformado em “A Deus Mamanita”), todos com texto de sua autoria.  





GADELHA, Julieta Pordeus. Antes que Ninguém Conte. Ed. A União-Superintendência de Imprensa; João Pessoa, 1998.
Fonte: http://www.teatropb.com.br

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