segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Distrito de Engenheiro Ávidos: o açude e os cabarés (II)

José Antônio de Albuquerque


Em 1910, o governo reconhece a necessidade de se construir no Nordeste grandes barragens e em 1921, uma empresa americana, Dwigtht P. Robinson, especializada em engenharia de açudes e barragens deu início, além de outras, a de Boqueirão de Piranhas.
Os trabalhos foram paralisados em 1925, no governo do presidente Arthur Bernardes, e todo o material e instalações mecânicas foram abandonadas e relegadas pela incúria do governo federal.
Em 1932, graças à atuação de José Américo de Almeida, Ministro de Viação e Obras Públicas, os trabalhos foram reiniciados sob supervisão técnica do engenheiro Lauro de Mello Andrade, que logo depois do início da construção, adoeceu e teve como substituto o engenheiro Moacyr Monteiro Ávidos, falecido em 15 de dezembro de 1932, vitimado pelo surto de tifo disentérico que grassava no acampamento, que ceifou milhares de vida no malfadado ano de 1932. Coube ao engenheiro Silvio Aderne concluir a construção, por quatro anos seguidos.
José Américo de Almeida, em A PARAÍBA E SEUS PROBLEMAS, escreve: “nunca haverei de esquecer esse esforço fecundo que inova, como por encanto a terra malsinada. Em Piranhas, mais de mil homens formigavam, azafamados, num recanto, onde um ano antes, não se encontrava vivalma. Florescia o povoado nascente em condições que já rivalizavam com algumas das mais antigas vilas sertanejas. Além de trinta casas construídas para o pessoal e operários incrementavam-se, dia a dia, a edificação particular. O comércio medrava aos surtos, funcionava uma escola e abriram-se casas de diversão, por iniciativa particular”.

Em 18 de setembro de 1936, foram concluídos os trabalhos de construção do açude Piranhas e sua inauguração ocorreu, com muita festa no dia 30 de novembro deste mesmo ano, com a presença do governador Argemiro de Figueiredo e do jornalista Assis Chateaubriand.
Com a construção do açude, em torno dele foi adquirida certa estrutura urbana, o que permitiu que parte da população se organizasse em outras atividades, ligada ao comércio, à agricultura e à piscicultura.
Com esta estrutura urbana, o povoado conquistou o predicado de vila, como sede do Distrito de Engenheiro Ávidos, criado pelo Decreto 1.010, de 30 de março de 1938.
Durante a construção dos Açudes de Piranhas, Pilões e São Gonçalo havia uma movimentação muito grande em Cajazeiras: os americanos não tinham pena de gastar dinheiro, com suas esposas e principalmente com as suas amantes. Os fartos dólares eram trocados em Fortaleza por mil-réis e davam pra tudo, inclusive para bebedeiras e farras nos cabarés.
A quantidade de dinheiro que circulava com a construção do açude, inevitavelmente, atraíram as mulheres de vida livre e houve que se interessasse de construir ruas de casas onde funcionou o baixo meretrício e uma das mulheres que mais se destacou neste período foi uma conhecida por Chica Viola, dizem que este apelido era por ser bela e bem-feita e tinha o corpo tipo violão.
Chica Viola e outra bela mulher se dirigia para a construção do açude e subiam a escada de uma torre e dentro de uma caçamba tiravam a roupa e olhando para os operários cantavam lindas canções e faziam propaganda do produto que tinha para vender. À noite era certeza de casa cheia, ao som do fole de oito baixos de João Gringo, que residia em uma casa no que é hoje o Sitio Coxos.
A história dos meretrícios de Boqueirão se prolongou, mesmo depois do término do açude, mas há testemunhos que muitas destas mulheres morreram de doenças venéreas, naquele tempo a medicina era muito atrasada e a falta de medicamentos e de médicos causou muitas vítimas. Este e outros fatos levaram à construção de um Hospital em Boqueirão.
Uma bela mulher foi a causa da morte de um americano, com tiro de rifle, na meia noite do dia 25 de fevereiro de 1922, cujo relato será um dos capítulos da história do Distrito de Engenheiro Ávidos. 

fonte: coisa de cajazeiras