segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

As bodegas de Cajazeiras


Francelino Soares - para o Gazeta do Alto Piranhas.



Está aí, em foto da época, o retrato fiel do movimento na “feira livre”,
no centro da cidade.


Bodegas… Ah! As bodegas, termo oriundo do lexicogênico latino – o acusativo da 1ª declinação aphotecam – do qual se geraram os termos botica/boticário e bodega/bodegueiro e significa pequena venda/pequeno armazém A quantos elas, ainda hoje, conduzem um exercício de memória. Em Cajazeiras, fazendo-as circular pelas lembranças de outros tempos, elas eram muitas, distribuídas pelas ruas ou pelos bairros citadinos.
Quando ainda não se falava nos modernos supermercados, era nelas que se faziam, durante os dias da semana, as pequenas compras para suprirem-se as necessidades domésticas. Sim, nos dias da semana, porque, aos sábados, o movimento se concentrava na “feira livre”, que se realizava na Praça dos Carros – Praça Coração de Jesus –, esparramando-se pelas ruas Juvêncio Carneiro, Epifânio Sobreira, Padre Manoel Mariano e Tamarina, para onde acorriam os feirantes (vendedores e compradores), aqueles advindos dos sítios localizadas nas circunvizinhanças, e estes, dos mais distantes pontos da cidade.
O fato é que, das 4 h da manhã às 5 h da tarde, o movimento era enorme: espalhados pelo calçamento, viam-se sacos e mais sacos de feijão, milho, arroz, além de carne seca (hoje, carne de sol), carne de jabá (depois, rebatizadas de “carne ceará” ou carne de charque), toucinho. galinhas, patos, capotes e até bacorinhos, fumo de rolo, goma, tapioca, beiju, tubérculos (batata doce, inhame e macaxeira), rapadura, batida, alfenim, méis (ou meles) de engenho e capuxu, chouriço e as mezinhas empregadas nos “remédios caseiros”: aroeira, quixaba, eucalipto, quebra-pedra, andiroba…
Era uma verdadeira “feira de mangai”, como diria Sivuca e Glorinha Gadelha: desde folhetos de cordel e bonecas de pano, até melancia, caju, cajá e cajarana… e aquilo que fazia a alegria da meninada: pitomba, groselha, romã, tamarindo, macaúba, jatobá, rosário de coco, castanha assada, amendoim in natura, doce quebra-queixo, pirulito, rolete de cana, cavaco chinês e as deliciosas “raspadinhas”.
Deve-se dizer que, além de tudo isso, ainda havia os famosos jogos de bacará ou de carteado, ali, à luz do dia, sem que ninguém viesse incomodar, Ah!, sim: a feira de muares: cavalos, éguas, jegues e afins realizava-se, também aos sábados, bem próximo do cemitério, exatamente no oitão da residência do Prof. Antônio de Souza (amado mestre-escola).
Quanto às bodegas, ainda me lembro de algumas que povoaram a minha infância e que eram conhecidas pelos nomes dos seus proprietários, nomes respeitados no comércio cajazeirense de antanho: ali mesmo, nas proximidades da “feira livre”, negociavam Ioiô, Braguinha, Juvenal Ricarte; descendo pela rua Padre Manoel Mariano: Gino (o do jogo do bicho), Jacinto Ricarte, Antônio Ricarte, Estelício Diniz, Trajano Lopes, (beneficiamento de arroz), Arcanjo (primeiro armazém atacadista da cidade); já pelas confluências da rua Juvêncio Carneiro e de sua travessia: Chico Mamede, Zé Travassos, Chico Pereira, Décio Saraiva; na rua Bonifácio Moura: Raimundo Limeira, Sinfrônio; em busca da Siqueira Campos e da rua que era chamada dos Dez Chalés: Zenaide, Maria Catolé, Zé de Moça, Zé Biquinho; na chamada rua da Tamarina: Andriola, Zecão, Zuca Ribeiro; já pelos caminhos do Alto Cabelão: Joca Claudino (que, inclusive, mantinha a entrega de leite fresquinho e quentinho, vindo de sua vacaria, localizada nas proximidades), Zuca/Luca Ludgero, Cherim e, quem souber mais que me informe, ajudando-me a preservar esta página que vai dedicada àqueles que, cada um à sua maneira, ajudaram a desenvolver o hoje profícuo comércio cajazeirense naquilo que era chamado o comércio dos secos e molhados ou, mais romanticamente, das estivas e cereais.




fonte: Blog do Christiano Moura

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