terça-feira, 29 de março de 2016

A VIA CRUZES DO CRISTO (Antenas do Morro)

Elmo Lacerda – Morador do Bairro Cristo Rei.




Todos os anos, principalmente na Quaresma da sexta feira da semana santa, fiéis sobem até o morro do Cristo Rei na cidade de Cajazeiras para participarem da tradicional via sacra, um momento de fé, penitencia e recordação do que foi vivido por Jesus durante as 15 estações;

É nesse dia que além das orações, louvores e cânticos muitos observam e percebem durante o percurso até o topo do morro quão tamanha é a beleza daquele lugar, uma vista privilegiada e maravilhosa da cidade, e é observando também que identificamos que aquele local precisa de atenção, de melhorias como: iluminação adequada, roço do mato, pintura, pavimentação em torno do monumento, proteção de ferro nos penhascos para evitar acidentes, falta uma capela, falta bancos, falta cuidados na estátua e falta retirar as antenas...quando vão retirar? E se vão retirar? Terão coragem de contrariar os altos interesses financeiros ali envolvidos? Eis a pergunta... quem responde? A quem caberá o grito em favor do nosso cartão postal? 

Assim como recordamos a história no tempo de Jesus que Pilatos lavou as mãos para se isentar perante ao povo de nenhuma responsabilidade pela condenação e morte de Jesus, também hoje, muitos lavam as mãos para com nosso cartão postal fazendo questão de deixar aquele lugar desprezado, esquecido e sem valorização turística e potencial econômico que poderia trazer para nossa cidade ,pois ali poder-se-ia ser explorado turismo religioso por parte da igreja, visitação de turistas, crescimento da economia local emprego e renda aos munícipes por parte do poder público municipal.

Lavam as mãos a Igreja, secretário de planejamento, prefeitura, políticos e até algumas pessoas da sociedade que se calam e fingem fazer de conta que esse problema não é deles, não é seu e não é nosso. Enquanto ações concretas não acontecem de verdade participaremos ainda durante anos de muitas semanas santa, via sacras..., mas também registraremos ainda muita falta de vontade, falta de interesse desculpas vazias, promessas e o fazer de conta de que aquele lugar não existe... sendo assim certamente continuará ainda por um bom tempo a via cruzes do nosso Cristo de Cajazeiras que são as antenas, o descaso e o abandono.  




Postagem publicada do blog ac2brasilia

domingo, 27 de março de 2016



Boas Imagens:
Veja as belas imagens da Paixão de Cristo 2016, em Cajazeiras, produzidas pelo fotógrafo Cavalcante Júnior. O rapaz que herdou do pai o dom e gosto pela fotografia, aproveitou a situação física ambiental que a noite propiciava, com os elementos cênicos do espetáculo para realizar essas boas imagens.


apietàEofilho
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flageloEcrucificação
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agoniaEsofrimento
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A CASA DO MOUCO

Francelino Soares - Para o Gazeta do Alto Piranhas




A lembrança de ambientes, ruas e locais com os quais convivemos noutros tempos idos e vividos, num passado não tão distante, é tão presente quanto a convivência com aqueles que são nossos contemporâneos. Assim é que, por exemplo, prédios, casas, quiosques e calçadas que nos povoam a memória são tão importantes, sobretudo para nós, os “exilados”, como Zé Antônio nos classificou, a nós que vivemos fora da “terrinha”, mas que trazemos o solo natal presente em todos os momentos. Visualizamos habitats mais antigos e pensamos em quantos ali nasceram, quantos amores foram ali vividos e quantas amizades se construíram…

Não vejo razão plausível para que tantos ambientes não sejam preservados, senão pelos familiares, que o sejam, pelo menos, pelos seus herdeiros. Já não falamos no poder público, porque, certamente, o IPHAEP/PB não dispõe de meios para controlar o boom imobiliário que também chegou galopante à nossa terra. Tais considerações vêm a respeito de notícia transmitida pela mídia, dando-nos conta do acidente que vitimou motorista e passageiros de uma van que fazia a linha Icó-Cajazeiras. Não sei por que, vendo as imagens do acidente, veio-me à memória o imóvel da ilustração de hoje, como se ali tivesse sido o tal desastre.

A este propósito, esta casa, que fica na confluência da antiga Rua Sebastião Bandeira (Rua dos Dez Chalés) com a Rua Pedro Américo – próxima de antigas residências de alguns amigos meus, como Zé de Moça, Donato Braga, Agamenon Holanda, César Nogueira Rolim (em cuja casa, posteriormente,  residiu Arcanjo Albuquerque, e já bem próxima da antiga Delegacia de Polícia) – pertencia a uma família cuja origem não lhes sei dizer, mas que possuía uma mercearia fronteiriça da residência e que era comandada por um “conhecido” nosso que era deficiente auditivo. Era por aí o nosso caminho em busca do Grêmio Artístico Pedro Américo, onde estudávamos.

A primeira vez que a vi foi por volta dos anos 1944/1945. O fato é que há pouco tempo – 2014/2015 – foi a última vez que a vi, mas ela continua ali, intacta e incólume, sem que ninguém apareça para restaurá-lo, objetivando a sua conservação. Por que assim acontece? E, como esta, existem, em nossa terra, muitos outros imóveis. Que não deixemos que os símbolos de dias que se foram se apaguem de nossa memória e que não sejam apenas lembranças que se foram…



quarta-feira, 16 de março de 2016

A arte de Cristina Moura, promete.

Cleudimar Ferreira




Como sempre tenho dito, quando tenho oportunidade de dizer! Cajazeiras é uma cidade vocacionada ao surpreendente e seus artistas por esse viés, vez por outra, surpreende. Mesmo os não assumidos, o fator “dom” que no estudo da arte não tem tanta importância, aflora com facilidade, revelando que a cidade parece ter nascido mesmo com o destino de ser um celeiro produtor de cultura no Estado.

Nesse contexto, transita com sensibilidade e com uma pintada de talento para a arte, a cajazeirense Cristina Moura. Não a conheço; nunca a vi; não conheço seu trabalho de perto, só por imagens circundantes via internet. Sei apenas que ela é uma conterrânea da gema, que mora em Vitória, Espirito Santo, que é professora, escritora, que gosta de jornalismo e de produzir belíssimos trabalhos plásticos como as fotos abaixo mostram. Quem há de contestar, que o que ela faz nas artes plásticas não é bom? É!

Ela trabalha um tipo de textura chamada de pontilhismo, para definir a sua técnica, que foi bastante utilizada por grandes pintores da arte mundial. Pintores como Georges Seurat - artista francês da fase final do impressionismo, encorpou a sua pintura com o pontilhismo. Um dos nossos artistas pop, Claudio Tozzi, foi e tem sido genial aplicando o pontilhismo nos seus trabalhos.

Desse modo, olhando a sua produção entre telas, desenhos e colagens, fica fácil perceber o que pretende Cristina Moura com seus acrílicos multicoloridos. Seria representar um mundo visionário numa terra onde a visão que temos é ocre por fatalidade do tempo, ou camaleôa as vezes numa só estação.

Van Gogh em alguns momentos de lucidez, fugiu dos traços nervosos que predominou na sua pintura, para experimentar os pontos coloridos dos seus pinceis. Cristina Moura, me parece, não tem essa pretensão, mas trabalha essa técnica com naturalidade, com autonomia e segurança no que faz. Parece ser uma promessa já previamente paga, realizada e quitada para as artes plásticas de uma cidade, que depois de Marcos Pê e Telma Cartaxo, vive uma inércia profunda no campo desse linguagem da arte.

























       




    


terça-feira, 15 de março de 2016

Como foi o surgimento em 1984, da ATAC - Associação de Teatro Amador de Cajazeiras



Antiga Escola Permanente de Teatro do NEC, onde foi fundada a ATAC



Cleudimar Ferreira


Embora esteja repleta de fatos extraordinários, irrefutáveis até, a história das Artes Cênicas em Cajazeiras, ainda é um capítulo fatiado, fragmentado, sem a sua devida trajetória a ser juntada; a ser contada; que possa vislumbrar em um só enredo; em uma narrativa sistemática; todos caminhos percorridos por essa atividade artística que marcou a produção cultural da cidade e o movimento artístico do interior paraibano.

Por esse viés, faz sentido considerar que enquanto não se condensa os seus fatos em um único espelho, pontos importantes desse entrecho de sucesso traçado pela nossa cultura, ainda que adormecidos, podem serem revistos numa forma de contribuição para possíveis estudos, por aqueles que tem interesso em saber como foi no passado, as ações determinantes que contribuíram para o sucesso do nosso movimento teatral.

Nesse contexto, transita silencioso sem que seus observadores, me pareça, tenha despertado para sua importância; alguns acontecimentos marcantes na década de 80, mais precisamente no final de 1983 e o ano seguinte de 1984, que antecederam a inauguração do Teatro Íracles Pires no dia 26 de janeiro de 1985. Um deles, foi a fundação da antiga Associação de Teatro Amador de Cajazeiras (ATAC), entre os dias 14 e 15 de abril de 1984, em movimentado encontro que se chamou de I Congresso Cajazeirense de Teatro Amador, onde reuniu em dois dias, seis grupos de teatro e mais alguns integrantes da classe teatral amadora da cidade, com esporádicas participações no evento.   

Mas para entender o que impulsionou a realização desse encontro e a posterior criação da ATAC pelos amadores de Cajazeiras, vamos lembrar alguns acontecimentos que marcaram esse momento, que ilustraram essa história. Numa ordem cronológica, o primeiro foi a maciça participação da classe, no Congresso Estadual de Teatro Amador, entre os dias 08 e 11 de novembro de 1983, na cidade de Alagoa Grande. No evento estiveram presentes 18 delegados representando os grupos de teatro Terra, Cajá, Boiada, Teatro Universitário, Grutebraz e GTE.

Entre outros assuntos discutidos no congresso realizado pela Federação Paraibana de Teatro Amador (FPTA), esteve também em pauta alguns pontos de interesse dos amadores de Cajazeiras, que viria depois instigar as relações entre os grupos de teatro recém-formados e os já consolidados, principalmente com relação a discussão em torno do destino do novo teatro que estava sendo construído na cidade. Depois, com destaque, veio a ascensão do Grupo de Teatro Terra, e, por conseguinte, a montagem da peça Beiço de Estrada, em 1984, que culminou com a participação do grupo nesse mesmo ano, no Projeto Nacional Mambembão de Artes Cênicas. A substancial subida instantânea do Terra, cativou o crescimento e o surgimento de novos grupos de teatro, como os grupos: GTE, Teatro Universitário – ligado ao Núcleo de Extensão Cultural (NEC), Grupo Paz e União, que vieram juntar os já existentes Cajá, Boiada, Grutebras e próprio Grupo Terra.


Por último, paralelo ao sucesso do Grupo Terra, veio a concretização do sonho da construção de um teatro na cidade, abraçada sem nenhuma objeção, pelo então Governador do Estado Wilson Leite Braga. A edificação da sonhada casa de espetáculos, solidificava dia-a-dia com as obras em andamento aos olhos dos atores cajazeirenses. O teatro era uma reivindicação antiga dos amadorres da cidade. Uma luta que teve seu princípio no finalzinho dos anos 60 e adentrou com mais vigor, com maior impulso nos anos 70, com as ações do Grutac, sob direção de Ubiratan di Assis. Diante da evidente construção do teatro, que se intensificava na solidez que mostrava as obras em andamento, travou-se uma luta silenciosa entre as principais lideranças da classe teatral, pela prioridade na futura direção da casa de espetáculo.

Inicio da construção do Teatro Íracles Blocos Pires - Teatro Ica

A CRIAÇÃO DA ATAC

Mas os primeiros ecos ressoados pela classe teatral cajazeirense, que praticamente abriu o debate para as possibilidades do surgimento da ATAC, foram dados na viagem de volta do congresso de Alagoa Grande. Dentro do ónibus da Transparaíba com destino a Cajazeiras, uma acalorada discussão travou-se entre integrantes da participação da cidade no evento da FPTA. Com o veículo em movimento, gritaria, insultos, bate-bocas e cobranças de toda parte eram direcionadas as principais lideranças da classe, entre elas, a figura-presente do então na época, radialista e teatrólogo Gutemberg Cardoso, dirigente do Grupo Cênico Boiada e Coordenador de Artes Cênicas do Núcleo de Extensão Cultural (NEC), órgão vinculado ao antigo Campus V da UFPB.  

Cinco meses após a volta do Congresso da FPTA, um conveniente momento veio como resposta as cobranças e os anseios da classe. Foi a realização - com participação maciça dos amadores no já citado I Congresso Cajazeirense de Teatro Amador. Nesse encontro que teve como local a sede da Escola Permanente de Teatro Amador do NEC/UFPB, foram discutidos e deliberados vários assuntos de ambicioso interesse da classe, muitos deles questionados na volta de Alagoa Grande, que marcaria um novo tempo, uma nova fase da política cultural em Cajazeiras e o destino do movimento teatral na cidade.

No primeiro dia do evento, a pauta traçada, debatida e questionada pela maioria presente, foi a organização da classe, já que havia uma empatia entre os grupos, motivada por uma acanhada postura protecionista ao Grupo Terra, por parte das principais lideranças da classe teatral cajazeirense, algumas delas morando na capital do Estado, João Pessoa. Esse embirrado ciúme, foi juntado por outro lado, com a praticamente inexistência de projetos para o setor teatral, por parte da Coordenação de Artes Cênicas do NEC, além da falta de transparência e apoio dessa mesma coordenação, aos novos grupos considerados pequenos, muitos advindos do teatro comunitário, com a atividade na periferia, desprovidos de técnica, de vivência e de prática de encenação.

Os Grupos, como o Grupo Teatral Esperança (GTE), Grupo Paz e União (GRUTEPAZEÚ) e Grupo Cajá, liderado pelo grupo de teatro Os Brasileirinhos (GRUTEBRAS), reforçava juntamente com o Grupo Terra - motivado com o seu crescimento técnico adquirido a partir nas oficinas experimentais de teatro que havia participado na Escola Piollin em João Pessoa; o confronte reivindicatório junto ao NEC, no sentido do órgão ser mais transparente na defesa e na organização da classe.

Por conseguinte, cobravam uma maior participação da Federação Paraibana de Teatro Amador (FPTA) e questionavam de forma positivista a necessidade de uma avaliação de sua política para as artes cênicas do interior do Estado. Além disso, apelavam para a criação de uma entidade classista, com foro na cidade, que agregasse a sua gestão, uma política representativa, com poder reivindicatório junto a FPTA e órgãos culturais do Estado.

Foi com essa rede conflituosa de relação promíscua, que no primeiro dia do evento o anteprojeto do estatuto da ATAC, foi discutido, debatido e aprovado, mesmo sendo lapidado com algumas emendas. Conforme matéria publicada no Jornal A União, de 27 de abril de 1984, a ATAC passaria a partir da sua criação, a ser o órgão máximo dos amadores de Cajazeiras, sem fins lucrativos, com sua diretoria eleita para um mandato de dois anos, não havendo, portanto, o caráter da reeleição para seu presidente e demais membros. De acordo com A União, a ATAC reconhecia a Federação Paraibana de Teatro Amador (FPTA) como entidade maior do teatro amador no Estada da Paraíba e a Confederação Nacional de Teatro Amador (CONFENATA), como representação soberana do teatro amador no país.

A PRIMEIRA DIRETORIA DA ATAC

Após a aprovação do estatuto, foi constituída uma comissão eleitoral para organização da eleição da primeira diretoria da entidade, tendo sido naquele momento, apresentado pelos amadores uma chapa única composta por um representante de cada grupo de teatro no evento. A única chapa inscrita no pleito foi submetida a votação e eleita por unanimidade pelos presentes ao congresso. Sendo eleito para presidir por dois anos a ATAC, Cleudimar Ferreira de Lira – integrante do Grupo Cênico Boiada.

O jornal O Norte em artigo divulgado na edição do dia 28 de abril de 1984, afirma que nesse mesmo dia, foram eleitos para Vice-Presidente, José Clementino – também do Grupo Boiada e para a secretaria geral da associação, o nome escolhido foi o da componente do Grutepazeu, Maria Verônica. Na direção financeira, o indicado por aclamação foi o ator José do Nascimento Lira (Nenego Lira), do Grupo Terra. Ainda foram eleitos: Edgley Alencar - do Grutebraz, para a direção de programação e Francisco Ednaldo do GTE, para a divulgação. A constituição do Conselho Deliberativo da ATAC, ficou representada pelos amadores Francisco Lincoln Filho, do Grupo Terra, para a função de Presidente e Orlando Maia, do GTE, para atuar como Secretário.

Matéria sobre a fundação da ATAC, publicada no Boletim do INACEM

AS PRIMEIRAS AÇÕES DA ATAC

Os passos iniciais da ATAC após sua criação em 1984, estava condicionado a uma série de eventos programados para segundo semestre desse mesmo ano. Na primeira reunião da entidade que aconteceu no segundo dia do congresso da classe teatral cajazeirense, os assuntos discutidos pertinentes as ações que iriam acontecer nas artes cênicas nos meses a seguintes, passavam pelo destacado VI Sertanejo Encontro de Artes Cênicas, que aconteceria, conforme calendário do seu órgão promotor, o NEC/UFPB; entre os dias 28 de julho e 4 de agosto.

Em conformidade com o que foi deliberado no congresso dos nossos atores amadores, o Sertanejo de Artes Cênicas, haveria de passar por mudanças. Essas mudanças, seriam na sua estrutura logística; com a melhoria dos espetáculos, que passariam a ter na programação, oito espetáculos adulto, três infantis e dois espetáculos de rua. Além de uma exposição comemorativa sobre a história do teatro amador de Cajazeiras, desde a década de 20 até a sua atualidade.

Antigo Teatro Íracles Blocos Pires - Ica, onde foi realizado o VI Sertanejo

Muito além do VI Sertanejo, havia outros assuntos, que embora não fossem atributos exclusivo da ATAC, porém dado as circunstâncias do momento, merecia total atenção da nova associação criada. Propósitos que ia requerer da sua diretoria todo desempenho possível. Um desses, seria as formas de lutas que poderiam ser aplicadas para quebrar as entravas que estava impedindo a conclusão do Teatro de Cajazeiras. Os serviços de construção da tão esperada casa de cultura da cidade, já haviam terminados. Estavam faltando apenas os equipamentos funcionais do teatro, como as cadeiras, indumentárias da caixa cênica e os sistemas de som e iluminação.

Nessa conjuntura, foi formada uma comissão representativa, constituída na sua base pela diretoria da ATAC, que assumiria a partir daquele momento, a função constitutiva  da classe, na tarefa de cobrança junto aos órgãos de cultura do Estado, principalmente na Diretoria Geral de Cultura (DGC), sob a direção de Raimundo Nonato Batista, e na Secretaria de Educação e Cultura, na época, administrada por José Jackson, visando a conclusão do teatro. Só com secretário José Jackson, foram dois encontros. Um Desses encontros da comissão com Secretário de Educação e Cultura, foi em umas das salas do antigo Colégio Diocesano Padre Rolim. Na ocasião, os amadores questionaram a inércia do Estado em não concluir a obra do teatro e cobraram do mesmo, mais agilidade na compra dos equipamentos que estavam faltando para a abertura definitiva do teatro.

Encontro dos integrantes da ATAC com o Secretário de Educação  
José Jackson, no Colégio Diocesano Padre Rolim

Na proporção aos impasses que a administração estadual produzia, que provocava demora na efetivação do teatro e na sua entrega a comunidade, a ATAC conjuntamente com FPTA, passou a buscar novos apoios junto a órgãos de difusão do teatro nacional que facilitasse trazer em pouco tempo, uma solução definitiva para cessão dos equipamentos restantes ao teatro. Um desses, foi o apoio recebido da Confederação Nacional de Teatro Amador (COFENATA) e do Instituto Nacional de Artes Cênicas (INACEN). Durante a realização do II Festival Brasileiro de Teatro Amador, realizado em Recife/PE, de 02 a 14 de julho de 1984; uma representação da FPTA e ATAC, mantiveram contato direto com Stanley Whibbe, na época responsável pela CONFENATA e com Orlando Miranda, diretor do INACEM.

Presença do dirigente da ATAC no II Festival Brasileiro
de Teatro Amador, realizado no Recife/PE

Com Orlando Miranda, a conversa foi em um dos camarotes do Teatro de Santa Isabel. O representante da ATAC, falou das dificuldades e ansiedades que a classe amadora de Cajazeiras passava ao ver a o seu teatro concluído, sem a sua abertura ser oficializada pelo Governo do Estado, por estar faltando a aparelhagem principal para o seu funcionamento, como as cadeiras, mesa de iluminação, aparelho de som e os equipamentos do palco. Gentilmente o diretor do INACEN assegurou ao representante da ATAC, que estava ciente dos problemas do Teatro de Cajazeiras e que tão logo retornasse ao Rio de Janeiro, iria manter contato com órgãos do Governo da Paraíba, para cobrar agilidade na aquisição dos equipamentos restantes, pois segundo ele, os recursos financeiros para esse fim, já tinha sidos repassado pelo Governo Federal ao Estado. Se desse encontro com Orlando Miranda sai ou não a solução definitiva para o problema do Teatro Ica, só a história confirmará isso. Mas o que é certo nisso, é que meses depois começaram a ser instalados os referidos equipamentos e pouco mais de seis meses o Teatro Ica foi inaugurado e entregue a sociedade cajazeirense.

De acordo com o que foi homologado no I Congresso Cajazeirense de Teatro Amador, seria também atributo da ATAC, a ocupação de unir o mais unânime possível, o discurso da classe, no sentido de pressionar o governo estadual e fazer valer o direito da entidade - como representação classista, de participar da indicação do futuro gestor do teatro, bem como, que os funcionários do mesmo, também fossem escolhidos entre as pessoas ligadas ao movimento teatral de Cajazeiras. Pleito um tanto ambicioso para uma agremiação recém-criada, que na prática, como já era esperado, não foi apreciado e nem acolhido, nem teve a notoriedade da gestão estadual que acabou indicando o nome de Ubiratan di Assis para direção do teatro, tendo em visto a grande pressão feita por pessoas importantes e influentes da classe teatral de João Pessoa junto aos órgãos de cultura do Estado, para que o gestor do futuro teatro fosse o teatrólogo cajazeirense.

Ubiratan, até então, mesmo estando morando em João Pessoa e afastado do movimento teatral da cidade; representava a chamada vanguarda teatral de Cajazeiras e com méritos, havia prestados relevantes serviços ao teatro cajazeirense e paraibano, tanto como ator e diretor do GRUTAC, como por ter participado de montagens de peças teatrais na capital, além de ter sido eleito o primeiro Presidente da Federação Paraibana de Teatro Amador (FPTA). A indicação de seu nome para a direção do Teatro Ica, expôs o desprestígio da ATAC junto ao governo paraibano e os órgãos culturais do Estado, como: A DGC e a própria FPTA. O episódio envolvendo a indicação do gestor do teatro, fragilizou a ATAC e a jogou no Isolamento. Sem força política, desacreditada pelos grupos de teatro filiados, principalmente por aqueles considerados menores que mais necessitavam de suas ações e por parte da classe teatral da cidade, a entidade se tornou em pouco tempo numa representação fictícia, de futuro incerto.  

Recorte do Jornal da Paraíba detalhando a programação
de Inauguração do Teatro Ica

Mesmo reservada aos problemas políticos que o fragilizava, a ATAC, até a inauguração no dia 26 de janeiro de 1985, daquele que viria a ser hoje a principal casa de espetáculos da cidade, se mostrou como uma opção de luta na busca de melhorias para o movimento teatral em Cajazeiras. Foram inúmeros os encontros da sua diretoria com representantes do Estado, principalmente os responsáveis direto pela conclusão do Teatro Ica. Ocupou sempre que achou necessário, os veículos de comunicação de rádio na cidade e os principais jornais em circulação no Estado, para cobrar dos órgãos oficiais, melhorias para nosso teatro e a definição de uma política cultural para Paraíba, que incluísse a cidade da Cajazeiras no seu objetivo maior, justificada pelo devido merecimento que tinha, já que até então era o principal polo promotor de cultura no interior e do sertão. 

Embora desprestigiada por segmentos da aristocracia cultural cajazeirense envolvida no teatro amador da cidade; ignorada pelas instituições promotoras de cultura no Estado, que pouca importância dava a sua representatividade; se mostrou presente nas decisões importantes que determinou o rumo do nosso teatro. Pelo pouco tempo de existência – foram apenas três anos legalmente constituída, a ATAC deixou na história do movimento teatral de Cajazeiras, a sua contribuição; cumpriu nos anos 80, a sua função de principal ferramenta de luta do nosso tão dedicado movimento teatral.  

(DATAS) CRONOLOGIA

Alagoa Grande/PB de 08 a 11 de novembro de 1983. Realização do Congresso Estadual de Teatro Amador. Presentes 18 delegados representando os Grupos de Teatro Terra, Cajá, Boiada, Teatro Universitário, Grutebraz e GTE.

Cajazeiras/PB de 14 e 15 de abril de 1984. Realização do I Congresso Cajazeirense de Teatro Amador. Presentes 6 grupos de teatro, além de alguns integrantes da chamada classe teatral independente da cidade.

Cajazeiras/PB, 15 de abril de 1984. Aconteceu a criação da Associação de Teatro Amador de Cajazeiras (ATAC) e eleição de sua primeira diretoria.

Recife/PE de 02 a 14 de julho de 1984. Realização do II Festival Brasileiro de Teatro Amador. No evento, aconteceu o encontro do representante da ATAC, com o diretor do INACEN Orlando Miranda, para tratar de assuntos referentes a conclusão do Teatro Ica.

Cajazeiras/PB de 15 a 23 de dezembro de 1984. Aconteceu a realização do VI Sertanejo - Encontro de Artes Cênicas.

Cajazeiras/PB, 26 de janeiro de 1985. Aconteceu a Inauguração e entrega do Teatro Íracles Blocos Pires - Teatro Ica, a comunidade de Cajazeiras.





quinta-feira, 10 de março de 2016

O TREM

Francelino Soares - para o Gazeta do Alto Piranhas


Há pessoas cuja sensibilidade sempre aflora quando ouvem uma música ou veem uma foto antiga como a que ilustra a nossa Coluna de hoje. Tanto é que, ouvindo hoje aquela antiga música, Mangaratiba, (composição da dupla Luís Gonzaga e Humberto Teixeira, 1949) – Ôi, lá vem o trem / Rodando estrada arriba / Pr’aonde é que ele vai? / Mangaratiba… Mangaratiba… Mangaratiba –, ela trouxe-me à memória, mais uma vez, uma antiga imagem semelhante a uma outra que já lhes havia mostrado na 2ª Coluna deste espaço saudosista, já há mais de um ano.

O fato é que cabe agora a pergunta: por que o trem exerce sobre nós este fascínio enorme? Havia um cenário que nos foi apresentado pela RVC – Rede Viação Cearense – e cuja presença nos deleitou, desde o ano de 1926 até 1971, e que era composto pela velha Estação Ferroviária, os componentes do “Maria Fumaça” (máquina, restaurante, carros de primeira e segunda classes), plataforma de embarque e o próprio “apito do trem”, elementos que ainda nos causam um indizível encantamento.

Era, sobretudo, aos sábados à tarde e domingos pela manhã que a Estação ficava apinhada de transeuntes. Era aquele vaivém que sempre levava alguém que nos deixava saudades ou trazia outrem que esperávamos com alegria… Na barafunda do ambiente, vendedores ambulantes – roletes de cana, rosário de coco, sequilhos, amendoim (chamávamos “midubim”), castanhas, cocadas de coco, macaúbas, cavaco chinês… – ajudavam a compor o cenário.

A Estação continua ali, intacta, quase intocável, porém tem a sua imagem encoberta pelo Fórum Ferreira Júnior… Os trilhos?… (chamávamos de as “linhas do trem”), embora eles não mais existam, ainda os vejo na minha mente. Tentem os leitores mais idosos identificar os personagens que compõem o cenário, obtido um certo domingo, pela manhã, nos anos 20, quando pontificavam as figuras ainda lembradas de Seu Perez, chefe da Estação, e de Seu Uchoa, chefe de trem, cujas estórias buscarei contá-las oportunamente.