domingo, 27 de março de 2016

A CASA DO MOUCO

Francelino Soares - Para o Gazeta do Alto Piranhas




A lembrança de ambientes, ruas e locais com os quais convivemos noutros tempos idos e vividos, num passado não tão distante, é tão presente quanto a convivência com aqueles que são nossos contemporâneos. Assim é que, por exemplo, prédios, casas, quiosques e calçadas que nos povoam a memória são tão importantes, sobretudo para nós, os “exilados”, como Zé Antônio nos classificou, a nós que vivemos fora da “terrinha”, mas que trazemos o solo natal presente em todos os momentos. Visualizamos habitats mais antigos e pensamos em quantos ali nasceram, quantos amores foram ali vividos e quantas amizades se construíram…

Não vejo razão plausível para que tantos ambientes não sejam preservados, senão pelos familiares, que o sejam, pelo menos, pelos seus herdeiros. Já não falamos no poder público, porque, certamente, o IPHAEP/PB não dispõe de meios para controlar o boom imobiliário que também chegou galopante à nossa terra. Tais considerações vêm a respeito de notícia transmitida pela mídia, dando-nos conta do acidente que vitimou motorista e passageiros de uma van que fazia a linha Icó-Cajazeiras. Não sei por que, vendo as imagens do acidente, veio-me à memória o imóvel da ilustração de hoje, como se ali tivesse sido o tal desastre.

A este propósito, esta casa, que fica na confluência da antiga Rua Sebastião Bandeira (Rua dos Dez Chalés) com a Rua Pedro Américo – próxima de antigas residências de alguns amigos meus, como Zé de Moça, Donato Braga, Agamenon Holanda, César Nogueira Rolim (em cuja casa, posteriormente,  residiu Arcanjo Albuquerque, e já bem próxima da antiga Delegacia de Polícia) – pertencia a uma família cuja origem não lhes sei dizer, mas que possuía uma mercearia fronteiriça da residência e que era comandada por um “conhecido” nosso que era deficiente auditivo. Era por aí o nosso caminho em busca do Grêmio Artístico Pedro Américo, onde estudávamos.

A primeira vez que a vi foi por volta dos anos 1944/1945. O fato é que há pouco tempo – 2014/2015 – foi a última vez que a vi, mas ela continua ali, intacta e incólume, sem que ninguém apareça para restaurá-lo, objetivando a sua conservação. Por que assim acontece? E, como esta, existem, em nossa terra, muitos outros imóveis. Que não deixemos que os símbolos de dias que se foram se apaguem de nossa memória e que não sejam apenas lembranças que se foram…



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