sábado, 27 de agosto de 2016

As Aventuras do Capitão Brechó (III)




O garoto era filho do delegado
Francisco Alexandre Gomes

Em dia de feira, apesar disse, não havia quase ninguém no açougue, e os fregueses estavam vasqueiros. O “Capitão” após o almoço sentou-se num tamborete alto e começou a cochilar. Entre um cochilo e outro, ele notou que um garoto de aproximadamente 12 anos estava tirando filetes da carne seca de dois carneiros exposta na pedra do açougue. A princípio não ligou aquilo, mas o bambino continuava a tirar pedacinhos da carne e a comer os pedacinhos que tirava. Aos poucos o “Capitão” fora se aborrecendo com a traquinagem da criança e levantando-se do tamborete viu que o menino estava com o dedão do pê muito inflamado. Havia ele sofrido uma topada, e o dedo estava muito inchado e cheio de pus. Parecia a cabeça de um cágado. Vendo aquilo o “Capitão”, que era homem perverso, teve uma infeliz ideia:  pisou propositadamente no dedo ferido do garoto dizendo-lhe: “Cri Jisus, meu fio, deixe eu tirá um pedacinho de carne para voimicê”. O menino nesse momento caía ao solo segurando a perna e gritando de dor. Saiu dalí com o pé coberto de sangue.

Minutos depois chegava ao açougue o pai do garoto, que era também o delegado da cidade, e vinha muito furioso. Ele queria saber quem tinha feito aquilo com seu filho menor. Mas o “Capitão”, que era homem de sangue frio e que com seus repentes sempre se saia bem nas piores situações, lhe respondeu com estas palavras: “Cri Jesus, seu sagente delegado, o bichim estava aqui e eu fui tirá um pedacinho de carne pra ele e num veno o pezim dele pisei, mais aqui tá a carne, leve pra ele”. O pai diante destas palavras perdeu toda a raiva e nada mais fez do que receber o bom pedaço de carne, agradecer ao “Capitão” e se dirigir a sua casa.

As 15 horas, o “Capitão” deixava o açougue e dirigia-se à feira para fazer as compras da semana. O garoto que teve o dedão do seu pé molestrado pelo “Capitão” tinha muito amigos e a eles contou o que havia lhe acontecido no açougue e quem era o autor da maldade. Os meninos, em número de dez, acompanhavam o “Capitão” de banca em banca e de rua em rua e diziam-lhe: “Que veio da ureona! Parece um boi no roçado. Num é turma? ”

Havia entre eles um que já tinha perto de 16 anos. Era um garoto magricelo e sarará. Esse não largava o pé do “Capitão” repetindo sempre: “Vamo medir as ureia, veio!” O velho, na verdade, tinha um par de orelhas que eram nada mole. Parecia mesmo um boi de raça.

A tarde já morria por trás do riacho Cajazeiras, mas a turma não largava o velho açougueiro, que já estava de saco mais do que cheio com aquilo, em dado momento, o garoto sarará aproximou-se muito do “Capitão” que naquele instante pegou o menino pela orelha e enfiando-lhe a longa e afiadíssima unha no tronco da mesma falou-lhe: “Cri Jisus, meu fio, voimicê tem razão, a minha ureia é maió duque a sua mermo”. Enquanto dizia estas palavras levantava o menino pela orelha até que pôde encostar o aparelho auditivo do garoto ao pavilhão do seu. Depois soltou o menino que saiu gritando com a orelha rasgada e banhado em sangue. O “Capitão” era um homem muito perverso.


Ele era bom de caça?
Francisco Alexandre Gomes

Em uma de suas viagens ao Mossoró, o “Capitão” pernoitou na casa de Severino Gago, velho fazendeiro do qual era amigo de longas datas. No dia seguinte, pretendia continuar a viagem ao quebrar da barra, mas acontece que, como sempre, ele levava carne de sol para vender no Rio Grande do Norte. Entretanto, depois de dois dias de viagem a carne, que era carregada em fardos, precisava ser estendida em uma corda, por um bom espaço de tempo para que não arruinasse e era preciso também tirar alguns bichinhos de correição que toda carne seca cria.  

Diante da necessidade permanecer por mais algumas horas na casa do velho amigo Severino Gago, o “Capitão” resolveu que só continuaria a viagem depois do almoço. Com esta resolução chamou seu filho José e com ele foi estender a carne numa corda que havia amarrado em duas estacas e uma cerca velha que ficava próxima da casa da fazenda. Feito isso, mandou que o filho ficasse cuidando da carne enquanto ele ia tirar uma soneca. José deveria ter também o cuidado para que algum urubu faminto não viesse banquetear-se com os carneiros estendidos ao sol. Mas o menino não poderia cuidar da carne sossegado, pois o cachorro da casa veio deitar-se junto a corda de carne e não deixava o garoto se aproximar. Toda vez que o menino se aproximava, o cão o ameaçava com seus dentes agudos.

Preocupado e com medo o garoto foi comunicar ao pai o que estava acontecendo. O “Capitão”, que dormia no cômodo da casa que a ele fora reservado, mandou que José botasse o tacho no fogo e quando a água estivesse fervendo fosse lhe avisar. O menino fez como o pai ordenou e quando a água estava fervendo foi comunicar-lhe. Aí, o “Capitão” levantou-se. Pegou o tacho com a água fervendo, e foi até onde estava o cachorro, e sobre ele jogou toda a água fervente que tinha na vasilha. O cão recebendo o banho quente saiu dali em louca carreira, latindo desesperadamente.

O dono da casa vendo que seu cachorro de estimação saia como louco de capoeira a fora, entrou na casa e encontrando o “Capitão” na sala perguntou-lhe se ele sabia o que havia acontecido ao seu Rompe-Ferro ao que o “Capitão respondeu: “Cri Jisus, meu cumpade! Seu cachorrinho é bom de caça? “É, sim, senhor! Confirmou o dono da casa e o “Capitão” completou: “Apois se ele é bom de caça, eu vi quando um bichim vremeio passou correndo alí naquela capoeira e vi o seu cãozinho sair atrás dele. Me pareceu que era um viado”. O home voltou à mesa de jogo e o “Capitão” carregou os animais e continuou a viagem.

Dois meses depois, o velho sertanejo voltava a pernoitar na mesma fazenda e entre uma conversa e outra o compadre Severino Gago lhe dizia que havia encontrado seu cão morto, dentro do açude, três dias depois da saída do “Capitão”, e que o mesmo estava morto largando os pedaços. O “Capitão” demonstrando que estava penalizado pela morte do cachorro do amigo largou-lhe esta: “Cri Jisus, meu cumpade! Essa é uma doença horrive que tá dano no que é de cachorro, voimicê num encontra um nem pra fazê remeido”.  


A burra de estimação e a chave do sacrário
Francisco Alexandre Gomes

Mimosa era o orgulho do “Capitão”. Ele a tinha em consideração de gente da família, e ela parecia entender suas ordens e no brilho dos olhos negros, grandes e cheios de vivacidade parecia demonstrar uma afetividade de criança para com o “Capitão”. Muitas vezes, ao aproximar-se dele, roçava-lhe ao peito largo e forte do velho sertanejo a cabeça ou umedecia-lhe as mãos e o rosto com seus inocentes beijos molhados de saliva. Ele a tinha criado desde pequenina, alimentando-a mamadeira, posto que sua mãe havia morrido, logo que ela nasceu, vitimada por mordida de cobra cascavel.

Nas viagens que o “Capitão” fazia a Mossoró, indo buscar sal de cozinha para abastecer as cidades de Cajazeiras, Sousa e São João do Rio do Peixe, ela era a frente, e quem comandava todas as outras, e a tangida só andava mais depressa graças ao seu passo largo e a sua admirável coragem e resistência incomparável. Dir-se-ia que ela nunca se cansava, mesmo sendo as viagens longas e cansativas. Seu pelo negro e reluzente nunca fora maltratado pelo chicote do tangerino, como o de suas companheiras que, aqui e acolá, além dos gritos do “Capitão” recebiam no lombo boas lategadas de fogo.

Naquela manhã, cinzenta, sem canto de pássaro, sem nuvens no céu, sem o Aracati e sem a costumeira alegria das manhãs sertanejas, o “Capitão” após uma noite mal dormida e cheia de pesadelos tomou uma firme resolução: iria a Cajazeiras, falar com o vigário da cidade, mentiria para ele, mas traria a chave do sacrário. Não iria de forma alguma deixar que Mimosa corresse doida como o maldito cachorro que a mordera no dia anterior. Não sabia de onde havia vindo o desgraçado do cão hidrófobo que no terreiro de sua casa fizera a desgraça de morder sua Mimosa. No chumbo grosso do seu bacamarte, o miserável foi para os infernos, mas Mimosa apesar de haver comido quase uma traça de alho, não estava fora de perigo e poderia morrer de uma hora para outra.

Com esta resolução, não esperou mais. Selou o cavalo e rumou para a cidade de Cajazeiras. Aqui chegando foi direto à casa do vigário e para ele foi expondo seu problema: precisava da chave do sacrário para botar na boca de um ente querido que havia sido mordido por um cachorro doido. Essa era a única esperança para velho sertanejo, pois na época não havia ainda vacina contra hidrofobia e, como todo sertanejo, ele acreditava piamente que botando-se a chave do sacrário na boca de um cristão ou de um animal mordido por cão hidrófobo a vítima não morreria.

O padre apesar de padre também era sertanejo e como o “Capitão”. Também tinha suas crendices. Assim sendo, entregou a chave do sacrário ao velho que tão logo a recebeu tratou de chegar a casa o mais depressa possível, e lá chagando, foi mediatamente até Mimosa e na boca da mesma, a chave colocou por um bom tempo. Mas quando voltou no dia seguinte para devolver a chave o padre já estava sabendo o que havia feito o “Capitão” e o repreendeu severamente, mas como o “Capitão” nunca fora homem de levar desaforo para casa, retrucou ao reverendo com estas palavras: “Cri Jisus, seu padre, voimicê só diz isso pruque voimecê nunca se casou e nem nunca teve uma burra de estimação no ceicado pra lhe seivir nas horas de aperreio”.



domingo, 21 de agosto de 2016

Escola de Música Santa Cecília é reformada e entregue a comunidade de Cajazeiras.


   DESTAQUE:   


Com suas instalações completamente reformadas, a Escola de Música Santa Cecilia foi entregue definitivamente a população de Cajazeiras. A sua revitalização era um sonho antigo dos integrantes da Banda de Música do município; bem como, da classe artística, de músicos instrumentistas, compositores e pessoas ligadas a produção musical na cidade; por achar que o espaço, embora pequeno, poderia ser transformado em ambiente de estudo e formação de futuros novos músicos.

Com sus instalações reformada e concluída, a prefeitura entregue a cidade um patrimônio cultural de relevância histórica, já que durantes décadas, o espaço foi importante na formação de muita gente que hoje faz carreira musical, tocando em bandas, orquestras e filarmônicas nas cidades que compõe a região metropolitana de Cajazeiras e em outras paradas. 

Nos anos 80, o espaço foi também elo formador de músicos para a própria Banda de Música Santa Cecília, se constituindo em um programa de inclusão social como é hoje o Projeto Prima do Governo do Estado, já que os alunos que frequentava o espaço, eram de famílias de baixa renda, que percebendo a sua vocação de seus filhos para a música, sonhava um dia aprender em vê-los tocar um instrumento musical.

A nova Escola Santa Cecília é composta de sala acústica climatizada para ensaio da Banda de Música e aulas práticas dos alunos; dormitório para quatro pessoas; um almoxarifado; refeitório, cozinha, recepção, sala para a diretória e espaço para guardar instrumentos.

A hoje reformada Escola de Música Santa Cecília foi construída pelo então prefeito Antônio Quirino de Mouro, em 1975. Abrigou desde a sua inauguração a Banda de Música Santa Cecília, que durante décadas, foi responsável pelo aperfeiçoamento e formação de muitos músicos, entre tantos, os músicos-instrumentistas: Maestro Esmerindo Cabrinha, Mozart Assis, Maestro Rivaldo Santana e Edmar Miguel.   


       


      







domingo, 14 de agosto de 2016

Os Anos de Chumbo em minha memória (III)

Pepé Pires Ferreira


Aproveitando a trégua da campanha eleitoral, em que a gente não pode “assuntar” a política paroquial, vamos continuar as reminiscências do período militar e seus reflexos na nossa comunidade. Hoje vou tratar de fazer uma espécie de tentativa de análise do episódio mais momentoso que aconteceu por aqui no “outono” desse período, que numa recente crítica feita pelo muito satanizado Gen. Nilton Cruz, que afirmou que um golpe militar era “uma arrumação da casa, mas ninguém passa 21 anos para arrumar uma casa…”
Sucedeu em 1975, ano passado completou 40 anos (deus, como tô ficando velho!!), e eu cursava o ensino médio em Recife, pois por aqui não haviam cursinhos que preparassem para os vestibulares dos cursos de “primeira linha”, então a gente aos quinze, dezesseis anos ia ser estudante nas capitais. Morava em Recife, e logo cedo, fomos acordados por um telefonema, avisando sobre o caso, e que tinha explodido uma bomba no Cine Apolo XI, e que a cidade sido invadida pela Polícia Federal. A noite, com grande destaque, a gente assistiu Cajazeiras na grande mídia, inclusive com fotos onde apareciam Dr. Epitácio, e Dr. Iemirton Braga (que eu me lembro), tratando dos feridos, tudo isso apresentado por Cid Moreira, o top dos apresentadores do Jornal Nacional.
Mas como já disse eu não estava presente nesse momentoso episódio, e acompanhei à distância. Vou me servir o que me contara os amigos que presenciaram o episódio em si e o restante do desenrolar desses acontecimentos, em espacial Sabino Filho e Ferreirinha.
No Apolo, como era de praxe então a gente ia assistir os filmes que lá passavam, juntamente com o Cine Éden e, mais raramente no Cine Pax, o cinema, era uma das poucas atividades de lazer que nos eram oferecidas: o filme que lá passava era “A Piscina”, com Romy Schneider, e como era um filme meio velho, estava faltando algumas partes, então ele terminou antes do normal. Todo mundo saiu do Apolo, e quando a turma estava na Rua Victor Jurema, à altura de onde funcionava o posto do INPS, ocorreu a explosão.
O que se sabe é que depois de encerrada a sessão, o Didi, soldado que era destacado para fazer a segurança do cinema (e assistir aos filmes), dando uma vistoria, descobriu em baixo de uma poltrona, uma bolsa tiracolo entre grande e média e chamou o projetista para entrega-la, supondo que tivesse sido esquecida. Nesse momento, aconteceu a explosão, matando imediatamente o projetista Manoelzinho, que vivia no Seminário, e antes o conheci pois era o goleiro de nosso time de peladas, e causando gravíssimos ferimentos em Didi, que depois veio a óbito. Era ele que apareceu como vítima nas fotos tiradas no hospital, que foram divulgadas pela TV globo. Também ficou ferido um retardatário que ficou vendo os cartazes dos próximos filmes, afixados na antessala do cinema.
Como a bolsa foi achada embaixo de uma cadeira que usualmente era ocupada por D. Zacarias, nosso bispo diocesano e cinéfilo, o que se tem de absoluta certeza, é que o alvo era esse religioso, uma das mais importantes figuras de nossa região no século passado.
Então, ato contínuo, logo que se divulgou a notícia, foi disponibilizado um, segundo me contaram impressionante aparato coordenado pela Polícia Federal, praticamente invadiram a cidade, contando inclusive com helicóptero. Eram tantos, que uns asilados bebendo e vendo um cachorro ficar a vigiá-los, um disse será que não é um polícia Federal disfarçado de cachorro??
Todos que tinham alguma relação, tanto com a sessão, como outros, o nosso “comunista oficial” Sabino Barbado, Bosco Barreto (que era do MDB, oposicionista), como o nosso inventor da oficial da cidade, Inácio Assis, foram interrogados. Inácio disse que se quisesse fazer uma bomba, ela destruiria era o quarteirão, e achava que esta era feita de forma primitiva, ou artesanal.
Atingiu o teto de gesso (abriu um buraco) e como era feita com pregos, alguns chegaram a danificar a tela, situada a mais de dez metros.
Como soube, Ferreirinha, e Paulo Antônio (Guedes), depois de descartados como autores, foram convocados para duas longas sessões de reconhecimentos, no hotel do Brejo das Freiras, e apresentadas, centenas de fotos para que algum se lembrasse. Nossa cidade ficou na Grande Mídia por mais ou menos uma semana, e como nada se descobriu, nem houveram outros desdobramentos, o caso foi esfriando.
Agora resta a questão quem praticou esse atentado contra nosso bispo.
Como não disponho de espaço, deixo para a próxima semana para analisar a perquiris suas razões, mas pode ser que traga ainda menos luz ao mais momentoso caso dessa época.





sábado, 13 de agosto de 2016

As aventuras do "Capitão Brechó" (II)

Mais duas histórias publicadas por Alexandre Gomes no Jornal A União, em 1981.


A necessidade faz o ladrão

Francisco Alexandre Gomes


Corria o ano de 1877. Uma terrível seca assolava o Nordeste. E se nos dias hodiernos uma seca é um temível flagelo, imaginemos no século passado, quando quase não existiam estradas e as cidades não passavam de pequenos povoados. Tudo era difícil ou mesmo impossível. Nas cidades ou póvoas, não havia movimentação senão nos dias de feira e, mesmo nesses dias em tempo de penúria, pouca gente se deslocava para as vilas.

Justamente, naquele ano, Dona Honorina, a mulher do “Capitão”, ficou gestante, e, talvez para confirmar o provérbio: “quem é gerado em tempo ruim pede comida antes de nascer”, teve um desejo que era mais uma obsessão. Acordou, naquela manhã, antes da hora do costume e disse ao marido eu queria come tipa de boi com feijão. A princípio o marido não deu muita importância, mas a mulher insistia: queria comer tripa e bch de boi com feijão. Tantas eram as atormentações da mulher que o “Capitão” resolveu atende-la. Selou o cavalo e foi até a cidade de São João do Rio do Peixe.

Na cidade, quase não havia movimentação, apesar de ser domingo, dia de feira e de missa. E chagando a São João, o “Capitão” dirigiu-se logo ao açougue com a resolução firme d atender a vontade da patroa. Mas que desilusão teve ela. No açougue não havia um só pedaço de tripa de boi. Estava perdido, e a mulher ia mesmo perder a criança. Que desgraça! Nada podia fazer.

Desiludido, o “Capitão” pegou a montaria e saiu trotando por uma rua quase deserta. Santo milagre! Pois não é que nos fundos de um quintal estava secando ou sol um varal de tripa e bucho de boi!...

O “Capitão” nunca fora ladrão, nunca roubara nada de ninguém mas estava em jogo a vida do filho que ia nascer. Resoluto, ele sem ter que desmontar foi até o varal e encheu uma pequena bolsa de palha de carnaúba com as vísceras. Como era domingo e havia missa o “Capitão” amarou o cavalo num pé de árvore e entrou na igreja. Não sabia ele o que iria lhe acontecer. Deu-se que um molecote vira quando o “Capitão” tirava a mercadoria alheia e fora dizer ao dono da mesma, que era o vigário.

Inocentemente, o “Capitão” entrara na igreja, com a bolsa de lado, indo procurar assento já próximo do altar. Para surpresa do nosso herói, durante a homilia, o padre começo a falar de quem rouba, dizendo que roubar é um pecado grave e, num arrojo grandíloquo, afirmou: “Há pessoas neste mundo que são capazes de roubar até um naco de tripa que se põe ao sol para secar”. Dito isto o “Capitão”, homem de sangue no olho, valente como era, pegou a bolça e num ímpeto de raiva jogou-se aos pés do sacerdote espalhando tripa e bucho de boi para todo lado, chamando a atenção de todos os presentes. Em seguida gritou alto: “Cri Jess, seu pade, eu num sô ladrão não. Eu tirei essa poicaria pru caso de muié que tá de barriga e desejou cumê essas coisas, mais voimicê pode ir come isso no inferno que se meu tive de nascê ele nasce”. Depois desse discurso, retirou-se o “Capitão” da igreja, sendo acompanhado pelo sacristão que lhe devolvia a bolça com as tripas. O padre queria evitar um aborto depois que soube da verdade.




Um banho com água fervendo.

Francisco Alexandre Gomes


Sei que quem promete deve, e eu não gosta de dever nada a ninguém. No comentário anterior a este, havia eu prometido que continuaria a transformar as aventuras do “Capitão Brechó” em crônicas. Aqui está mais uma história.

Morava perto da fazenda do “Capitão” um sujeito que tinha a feia mania de ficar escondido dentro do mato, olhando as mulheres no banho de açude ou atrás das casas a noite para ver quando uma mulher saía para fazer alguma necessidade fisiológica, pois mesmo nas casas de fazenda naquela época não havia sanitário. E todas as mulheres da redondeza sofriam por causa das perseguições do tal maníaco sexual. Mas elas tinham medo de contar aos maridos, pais ou irmãos com receio de uma vingança por parte desse elemento, que era um sujeito metido a valentão.

Certa noite, as filhas do “Capitão” saíram para botar comida aos porcos e atender as suas necessidades fisiológicas ali mesmo perto do terreiro. Quando voltavam para a cozinha, viram que havia alguém dentro de uma ruma de estacas que estavam amontoadas perto da casa. Não gritaram. Fizeram que não tinha visto o tal sujeito entre as estacas, mas contaram para o pai que estava a pitar o seu cigarro de palha n alpendre. O “Capitão” tomando conhecimento do fato ordenou as filhas que botassem o grande caldeirão no fogo e ficassem na cozinha dizendo que ainda iriam botar mais comida aos porcos que a que tinha levado havia sido pouca.

Assim foi feito. As meninas obedeciam cegamente ao pai e ninguém era doida em contrariá-lo. Quando a água estava fervendo o “Capitão” tomou nas mãos o grande caldeirão e colocando-se em fila no meio das moças saiu com elas para o terreiro. Uma ia à frente com um candeeiro na cabeça, o pai no meio da fila. Chegando perto do amontoado de estacas o “Capitão” jogou de uma só vez toda a água fervendo onde estava o elemento escondido, na esperança de ver um tornozelo o coisa mais. O sujeito recebendo o banho quente saiu em disparada gritando como um louco.

Dias depois, chagando à casa do “Capitão” seu velho amigo e compadre Manuel Firmino. Entre uma conversa e outra o amigo lhe contou que José de Louro estava prostrado dentro de uma rede e seu corpo era uma ferida só. O homem estava caindo aos pedaços e podre em vida. O “Capitão” olhando fixamente para o compadre persignou-se e disse: “Cri Jisus, meu cumpade, é uma doença horrive que tá dano no povo pras bandas da Capitá e que tira o coiro da pessoa cuma água freveno”.



Cleudimar Ferreira

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Como se fosse ontem

Valiomar Rolim
Fonte: Gazeta do Alto Piranhas, ed. nº 214 de 17 a 23/01/03



Valiomar Rolim para o gazeta do alto piranhas – ed. 214 (17 a 23/01/2003) Foi um encontro com o ontem. Foi um encontro comigo mesmo. Foi um encontro com meus amigos, os de ontem, os de hoje. Os do passado e os atuais. Os que estão aqui e os que já se foram. Todos.

Vi o tempo em que se atravessava a parede do Açude Grande para ver se a festa do Primeiro de Maio estava melhor que a do Tênis Clube. Vi as serestas feitas pelos Penetras, às vezes até com o astro Jairo Palmeira. É de lembrar até a chamada que Dedé Bundão fazia, só chamando os queridos, para desencorajar os que não eram desejados.

E as voltas que meus delírios, misturados com meu coração, deram, fizeram-me ver as voltas da vida do jeito que a vida faz. Fizeram-me ver a minha adolescência, meus ídolos, minhas aspirações, iguais às de todo jovem de todas as épocas. Vejo-me com a namorada quase sonho, a quase menina que povoou meus sonhos e nutriu minha alma.

Reencarno-me como colaborador do Grutac e me revejo no palco fazendo teatro com Ubiratan di Assis (como ele preferia ser chamado), Antônio Carlos Vilar, Clizenit Assis, Francinaldo Freitas, Hermes Brito, tudo isso sem esquecer Dona Ica, que fez surgir tudo isso e até Tarciso Siqueira da peça “Paz, Juventude e Liberdade”.

Dá até pra ver a Semana Universitária, festa em que estudantes assumiam um ar de gente grande, durante uma semana, obtinham destaque de autoridades maiores, mobilizavam toda a região em torno de um evento que, até hoje, não se vê maior.

Vejo, como se fosse agora, a Rádio Alto Piranhas, patrimônio da Diocese, mais ainda, patrimônio da cidade, com Zeilton Trajano no comando, escumilhando a vida dos políticos e enfrentando as broncas que o Bispo Dom Zacarias, o Dom Zaca, sempre resolvia.

E o Colégio Diocesano? Quem não se lembrada história que ele fez? Aí é inspiração para outro escrito. Esperem-me, no próximo delírio ele virá, e com gosto de fogo. Não dá para esquecer, uma escola com sesquicentenário? Era preciso ser desatento, para não registrar.

Esse delírio memorial seria pequeno se não falasse de Mosquito, Eudes Pereira de Assis, grande contador de histórias, exímio piadista, que segurava legião de jovens, e não tão jovens, até às madrugadas nos bancos da Praça João Pessoa só para ouvi-lo falar histórias e estórias que iam, desde os primórdios da vida cajazeirense, até as fofocas mais recentes.

A vontade continuar é grande, mas, o sono me vence as forças e o espaço no jornal é restrito e me força a adiar a continuação deste delírio. Acordo e não vejo nem sinto mais nada, a não ser o monitor do meu micro e a vontade de ir para a cama.



sábado, 6 de agosto de 2016

Observe essas imagens


Em fevereiro de 1962, os fotógrafos Nilo Bernardes e Tibor Jabionsk, a serviço do IBGE estiveram em Cajazeiras. Na cidade e nos seus arredores, os dois fotógrafos, documentaram entre outras, essas imagens. No catálogo do IBGE, a legenda das fotos anuncia que as imagens são de mulheres carregando água em uma bilha no Açude Lagoa do Arroz, que segundo o anuncio o referido açude está localizado no Vale do Riacho Cacaré, afluente pela margem direita do Rio do Peixe, na bacia do Alto Piranhas. Distância cerca de 420 km de João Pessoa, pela BR 230. Pelos aspectos das imagens, em preto e branco, com características de época, elas demonstram terem sidas produzidas, realmente, na década de 60. No entanto, a construção do açude Lagoa do Arroz é mais recente, da década de 80, e as imagens não poderiam ser produzidas no açudo em 62, já que o mesmo ainda não existia.  









As Aventuras do "Capitão Brechó" (I)



Francisco Alexandre Gomes, publicou entre os anos de 1981-82, no Jornal A União, uma série de contos e histórias denominada de "As Aventuras do Capitão Brechó", que segundo ele, baseavam-se nas peripécias e artimanhas praticadas pelo seu trisavô Belchior de Souza. Alexandre Gomes, foi diretor da secretaria da Câmara Municipal de Cajazeiras e professor de Língua Portuguesa e Literatura no Colégio Comercial Municipal Monsenhor Constantino Vieira. Abaixo, transcrevemos três contos publicadas por Alexandre, no primeiro semestre de 1981. Dos três, destaque para o conto: "No Xadrez, Comendo Carne de Cachorro", que abril a série publicada no referido jornal.

Em cima da mangueira com a mulher do cego
Francisco Alexandre Gomes

João Raimundo, morador e amigo do “Capitão Brechó”, não nasceu cego. Não. Começou a perder a visão depois dos cinquenta anos e, aos sessenta, estava completamente mergulhado naquele mundo tenebroso de trevas. Foi ele o homem mais disposto que o “Capitão” teve a seu serviço. Era pau para toda obra e só deixou de trabalhar quando ficou realmente cego.  A princípio não queria de forma alguma se conformar com a miserável situação de inválido, mas não havia outro meio ou saída. Tinha que se conformar em não poder andar pelos campos a campear o gado nas tardes fagueiras, soltando o seu aboio dolente que ecoava nas quebradas da serra como um lamento cheio de saudades e se espalhava nos campos levado pelas asas do vento. Quando pensava nessas coisas tinha pensamentos negros: queria acabar coma própria vida, mas não podia, não porque lhe faltasse coragem, mas porque era temente a Deus e recebia o mal como um castigo por alguma falta cometida contra os céus quando moço. Ninguém jamais acreditou tanto nas coisas sagradas como João Raimundo acreditava. Era homem de fibra, mas tremia de medo quando alguém falava em purgatório e inferno. Inferno era para ele o lugar onde as almas condenadas eram jogadas em tachos com água e óleo fervente e onde o diabo noite e dia feria os condenados com seu tridente de fogo.

Só uma coisa mudou muito em João Raimundo: depois que ficou cego começou a sentir um ciúme doentio de sua mulher. Maria Flor era mais nova do que ele quinze anos aproximadamente. Mulher bonita, bem-feita de corpo e muita cheia de vida. O marido não a deixava só, um só instante. Até quando ia fazer uma necessidade fisiológica ou ia ao açude tomar banho ele ia com ela. Não largava mesmo a saia da mulher que vivia reclamando constantemente contra aquela atitude do marido. Mas não adiantava reclamar, cada dia o ciúme aumentava, mas ninguém que sabia do cuidado de João Raimundo para com a esposa jamais dela desconfiou, pelo contrário, todos a tinham em conta de mulher respeitável que amava unicamente ao marido.

Certo dia, a mulher convidou o esposo para que juntos fossem tirar mangas. Era a época das mangas e as mangueiras estavam muito carregadas. O marido aceitou o contive. Desse dia em diante, todos as tardinhas, Maria Flor chamava João Raimundo e juntos iam tirar mangas. Já no final da safra, uma certa tarde, a mulher subiu na mangueira e o cego ficou no tronco da fruteira a sua espera. A mulher demorava lá em cima, mas o marido não dizia nada. Ele estava ali abraçado com o tronco da árvore e ninguém por ali iria subir para com Flor se encontrar. De súbito, uma maravilha aconteceu. Não sei dizer com certeza se foi um milagre ou se foram as cataratas que lhe tomavam a visão que caíram dos cristalinos, só sei dizer que ele voltou a ver. E vendo, quase teve uma parada cardíaca. No alto da mangueira. Maria Flor fazia amor com o seu velho amigo o patrão. Naquele instante, sua voz interrompeu o silencio da tarde: “Desse daí desgraça que eu quero agora acabar com tua vida e a deste velho sem vergonha e traidor”. Colhidos de surpresa a mulher nada disse, mas, como sempre, o “Capitão” largou o seu repente: “Cri Jisus, meu cumpade, tenha calma, nóis istava pagano uma promessa que a cumade Fuló fez pra voimicê fica bom da vista”. Ouvindo isto, o ex-cego se retirou para casa e nada fez com a mulher nem com o “Capitão”. Ele era muito religioso.

Um ano depois Maria Flor pegava carona num câncer do útero e aí falar com São Pedro. Com as coisas divinas ninguém deve brincar. No sertão, timor Domini principium sapientie.



No Xadrez, comendo carne de cachorro.
Francisco Alexandre Gomes

Não, não é exagero meu, mas todo o folclore do Nordeste e, especialmente da Paraíba não tem nada que seja mais interessante em termos de aventuras e humorismo caboclo do que a figura do meu trisavô Belchior de Souza, popularmente conhecido em toda essa vasta região como “Capitão Brechó”. Toda sua vida foi uma maravilhosa aventura, mas por ter sido um homem que viveu, aqui nos confins da Paraíba no século passado, não é conhecido e nenhum folclorista escreveu nada a respeito dele até hoje.
Toda a rica história do “Capitão Brechó” me fora contada detalhadamente por meu avô Joaquim Quirino de Souza, que em menino com ele convivera e não se cansava de nos transmitir os fatos mais pitorescos da vida do seu famoso parente. E isso em mim, particularmente, despertava tamanho interesse que cheguei a jurar que um dia iria contar em livro todas as aventuras do “Capitão”. Mas como até agora não pude cumprir o juramento, vou tentar transformar toda essa história em comentários que, a partir de hoje, certamente, serão publicados, em série, pela A UNIÃO, contando com a bua vontade dos seus ilustres editores.
O “Capitão Brechó”, assim o chamavam, era um homenzarrão, pois tinha quase dois metros de altura e era forte como um touro. Era muito valente e repentista que na minha opinião não perderia para muitos de hoje. Tinha quatro filhos: Cotinha, Ana, Maria e José, e com sua prole trabalhando na agricultura, em terras de sua propriedade, e nos fins de semana, vendia carne seca em São João do Rio do Peixe (Antenor Navarro), Sousa e Cajazeiras. E por falar em carne seca ei-la aqui a primeira história desta série.
Andava o “Capitão” a vender carne seca, levando-a aos ombros e, sempre acompanhado por um dos rebentos, de porta em porta, aqui em Cajazeiras, mas como naquele dia se lhe ofereciam uma banca no açougue da cidade, lá ele ficou a vender a sua mercadoria. E sendo a carne muito gorda e bonita, a primeira pessoa a compra-la foi justamente a mulher do delegado, que era um sargento da polícia com fama de durão.
Chegando a casa a matrona cuidou em preparar um bom refogado para o esposo que andava as voltas com a segurança da cidade. Mas aconteceu que quando o cozido começou a ser preparado ao fogo, um cheiro estrambólico foi tomando conta da casa toda. A mulher desconfiada, chagando o marido para o almoço, disse-lhe que a carne estava tresando a cachorro. O marido então ciente disso cuidou em oferecer ao seu vira-lata de estimação alguns pedaços da carne. Dito e feito. O cão olhou, farejou, latiu e por fim fez pipi em cima da comida. Estava provado. Era carne de cachorro mesmo.
O “Capitão” fora preso. Seu castigo: comer no xadrez toda a carne dos dois cachorros que ele havia abatido e estava vendendo como carne de criação. Mas a carne era cozida na própria casa do delgado, lá numas trepes no final do terreiro, pela filha do “Capitão”. O “Capitão” obcecado pela ideia de sair do Cárcere dizia para a filha “Carrega a mão nos cachorrim, fia” ao que ela respondia: “Não posso, pai, o home, só dá um naco por dia”. E o pai “Cris Jisus, fia, vê se ele dá mais”. Assim o “Capitão” passou mais de dois meses no xadrez comendo cachorro no almoço e no jantar. Comeu até o Ultimo pedaço dos cachorros que ele capava e engordava par vender aos seus incautos compradores. O delegado havia lhe imposto uma pena que não valeu a pena, pois o “Capitão” continuou sempre o mesmo sicário.

Fez o Padre entrar na rua de cueca
Francisco Alexandre Gomes

O padre Manoel, que Deus o tenha na Gloria, era um homem de muita fé. Um verdadeiro representante da igreja e ministro de Deus. Mas desde o episódio das tripas de boi que foi objeto de um outro comentário anterior, que o “Capitão” não ficou gostando dele. E, por isso, vivia esperando uma oportunidade para dele se vingar. Vivia lambendo uma rapadura para pegar o sacerdote numa virada.
Certo dia, à tardinha, o “Capitão” voltava da feira, trotando pela estrada em sua burra de estimação, quando a distância de três ou quatro quilômetros da cidade se encontra com o padre Manoel que vinha vindo de um sítio das proximidades onde fora confessar um doente. Vendo-o só e a pé na estrada o “Capitão” teve uma de suas ideias perversas e aproximando-se do religioso foi dizendo-lhe: “Cris Jisus, seu padre! Se voimicê vai só e de pé, tenha cuidado, pois eu passei aí atrais por ‘um cachorro doido que vem mordeno até as varas das ceica. Voimicê se privina apois pra mordida de cachorro doido nem a chave do sacraro cura”.
O padre na sua ingenuidade de homem bom agradeceu de todo coração a informação que havia recebido daquele seu paroquiano. Prometeu ter todo cuidado, mas como a noite já se aproximava, ele resolveu pular a cerca e caminhar pelo lodo de dentro do roçado, pois assim estava mais seguro. Cachorro hidrófobo não pula cerca, era melhor enfrentar o carrapicho maduro de fim de inferno do que enfrentar um cão raivoso.
Com esta resolução, o bom pastor seguiu caminho rente a cerca em busca da cidade. Mas não havia ele andado mais do que alguns metros, e sua batina já estava totalmente cheia de espinhos. Até no chapéu e nos poucos cabelos, havia carrapicho. Daí algum tempo foi obrigado a tirar a batina e ficar só de calça e camisa, pois naquela época além da batina os padres usavam calça, camisa e cueca. Pois bem, livrando-se da batina e enrolando-a e colocando-a sob o braço prosseguiu caminhada. Andou novamente algumas braças e novamente estava cheio de carrapichos que lhe furavam o corpo dolorosamente. Mas continuou caminhando. Quando, finalmente, chegou a entrada da rua teve que parar debaixo de um juazeiro e tirar a calça e a camisa, pois não tinha mais condições de suportar os espinhos que o feriam. A roupa era uma armadura insuportável. Ele lembrava na sua agonia os sofrimentos de Cristo tendo à cabeça uma coroa de espinho e se perguntava como o Mestre havia suportado tanto sofrimento. Como havia suportado aquela coroa que lhe poram a cabeça.
Debaixo do juazeiro o reverendo esperou que a noite fosse vindo com sua escuridão para poder entrar na rua. A felicidade era que não havia luz elétrica e nem era noite luar. Não poderia vestir aquela roupa, pois com ela não conseguia dar um único passo sem ferir o corpo nos espinhos. Já iam sendo nove horas quando ele deixou o juazeiro e se dirigiu apressadamente para casa. Mas foi o cúmulo do azar. Ao passar em frente a uma residência alguém estava a porta com uma lamparina e esse alguém era a velha Totonha que o reconhecendo exclamou: “Cruzes credo! Mais vejo Sinhá, é o padre Manoel que tá andando na rua só de “ciloura”.


Cleudimar Ferreira
Agosto/2016