sábado, 5 de novembro de 2016

A visão oposta em 1987, do jornalista Waldemar Duarte com relação a sede do Festival de Arte da Paraíba.

por Cleudimar Ferreira


Cajazeiras sempre esteve à frente na produção cultural do interior do Estado. É lógico que por aí se produziu bons eventos e outros menos impactante; tivemos também periodos que pouco ou quase nada se reaĺizou.  Essa posição merecida, não só tem causado ciumeira nas cidades circunvizinhas, como também, provocado inquietações em determinados segmentos das artes - seja que linguagem for; na imprensa, em jornalistas e/ou críticos dos centros maiores, com destaque, cidades como Campina Grande, João Pessoa e Cabedelo. 

Entretanto, sejamos mais justos com esse contexto e, possamos admitir que essa preocupação de ver a hegemonia cultural desses grandes centros culturais ser ultrapassada por uma cidade de porte médio, foi mais evidente no passado e que nos dias atuais, essa emulação já não espelha tanto concorrência ou rivalidade, como se pensava há anos atrás. 

As evidências desse desassossego parecem mesmo coisa do passado. E foi buscando o passado, que me deparei com este artigo, que tem o título de: “Festival de Artes foi desvirtuado” de Waldemar Duarte, publicado no jornal “A União” de 26 de março de 1987, página 9, Segundo Caderno. Na sua redação, fica clara essa inveja quando o jornalista escrevendo sobre a decisão do governo do Estado de realizar o Festival de Artes da Paraíba, em Cajazeiras, diz que “se Cajazeiras, a heroica terra do Padre Rolim, deseja um Festival de Arte, que o faça”.

Mas porque essa visão oposta de Waldemar Duarte com relação a indicação de Cajazeiras como sede do Festival? Seria talvez o fato de Cajazeiras, na década de 80, ter chegado em certos momentos a ser a cidade que mais produziu cultura em todo Estado da Paraíba! A atitude opositora do cronista à Cajazeiras, na época, estampado claramente no seu texto, fica mais explícita quando o cronista responsabiliza o mal comportamento de alguns artistas de teatro, incluído os grupos de Cajazeiras nas hospedarias de Festivais passados, realizados na cidade de Areia.

Em outro parágrafo, me parece, o quinto, o jornalista até concorda que o Festival seja transferido da cidade de Areia para outro centro. E sugere João Pessoa e até Mamanguape, mas, nunca em Cajazeiras. Mais adiante, o jornalista abre uma refuta que colaborando com o evento especial - centenário; aniversário da cidade; inauguração de teatro; etc., podia haver uma exceção para Campina Grande ou Patos, que na visão dele oferecia condições melhores de hospedagem de todos os participantes do evento e os meios de transportes melhores. Como se em Cajazeiras nessa época, não existisse hotel ou transportes adequados para o translado de ir e vim dos artistas do festival.  

Finaliza, afirmando que Cajazeiras tem condições de realizar seus festivais. E sugere que faça com participação até mesmo do Estado do Ceará, que é fronteira com o cacife que lhe oferecem os seus grupos teatrais, seus valores locais e adjacentes. Ainda bem, que do ranzinzado de Waldemar no seu texto, saiu uma sugestão que não é de se jogar fora. A ideia de Cajazeiras realizar um Festival de Arte do Sertão. Evento que poderia ser feito com a participações de cidades vizinhas, ou mesmo com outras próximas de Cajazeiras, dos Estados de Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte, que se limitam com a nossa cidade. Leia abaixo o texto completo de Waldemar Duarte.  





FESTIVAL DE ARTES FOI DESVIRTUADO
Waldemar Duarte
  

O Festival de Artes da Paraíba, que, inicialmente, denominava-se Festival de Artes de Areia, foi desvirtuado por um populismo pernicioso. Se Cajazeiras, a heroica terra do Padre Rolim, deseja um Festival de Arte, que o faça, não é nada demais. Desviar o Festival de Artes de Areia, leva-lo para Cajazeiras e ficar repetindo-o, é dose para elefante. Ele foi criado para Areia, com esforço grandioso e grandemente aplaudido, de inspiração do poeta e deputado Eilzo Matos e, por isso mesmo, deve ser conservado, até mesmo pela excelência do clima.
 
É bem verdade que, não havendo hotel seus promotores usavam o Colégio Santa Rita para hospedagem, tendo desavença com seus promotores em virtude de mal comportamento de alguns artistas teatrais, incluindo os grupos de Cajazeiras. Hoje, no entanto, já existe um hotel que precisa ser inaugurado. Melhor a oportunidade não haverá em inaugurá-lo do que a realização do Festival de Arte de Areia ainda este ano. Agora que estamos festejando o centenário de nascimento de José Américo, filho de Areia, essa oportunidade tornar-se ainda mais gritante. O ano do centenário do autor de A Bagaceira deveria ter em seu calendário de comemorações, a inauguração do Hotel que já está devidamente mobiliado, dependendo apenas da desapropriação de umas favelas que não sendo possível, também não será motivo relevante para homenagear José Américo e sua cidade.

Aqui fica a sugestão ao Sr. Secretário de Cultura, o combativo jornalista Severino Ramos, que está suando por todos os poros para realizar para moralizar os segmentos culturais de sua administração, para acompanhar a austeridade administrativa do Governo Burity. Chegaremos lá.

A oportunidade é boa para trazer a Paraíba, neste centenário as mais atuantes autoridades em literatura, em música, em pintura, em folclore etc., para homenagear José Américo e retomar a realização do Festival que já se tornou uma tradição e o roteiro certo dos que fazem artes no Brasil.

É bom lembrar que a imposição política exigindo sua permanência para onde não foi criado, pode deturpar o verdadeiro sentido dos objetivos para os quais fora criado. Se ele foi criado para Areia e se Areia oferece as condições de clima e hospedagem, não sei como se pode mudar o local de sua realização. É possível que vez por outra, ele possa ser realizado também em João Pessoa e Mamanguape, numa trilogia com todas as facilidades de hospedagem e de transporte, nunca em Cajazeiras...

Pode-se até admitir que colaborando com o evento especial (Centenário, aniversário da cidade, inauguração de teatro etc.) posso haver uma exceção para Campina Grande e Patos, que oferece condições de hospedar todos os seus participantes e os meios de transportes são mais facilitados.

Cajazeiras tem condições de realizar seus festivais, com a participação até mesmo do Ceará, que é fronteira, com o cacife que lhe oferecem os seus grupos teatrais, seus valores locais e adjacentes. O festival de Areia deve se firmar na cidade serrana, para a qual foi criado, o que firmará mais ainda seu conceito de centro cultural, não somente pelo que estamos fazendo, como pelo que já fez com os seus filhos aureolados, como Pedro Américo, Aurélio Figueiredo, Coelho Lisboa, José Américo de Almeida e tanto outros. Fica a sugestão...

Sente-se que a nova direção de nossa Cultura está trabalhando com enorme entusiasmo, inclusive para a implantação do Museu do Açúcar e do Parque Ecológico-Turístico-cultural José Américo de Almeida.





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