domingo, 13 de maio de 2018

O REISADO QUE CAJAZEIRAS TEVE



IV Festival Nacional do Folclore - Imagens de uma apresentação do Grupo de 
Reisado de Cajazeiras nesse evento. 


cleudimar ferreira



O Grupo de Reisado; a Banda Cabaçal; Os Caretas e o Jaraguá de Cajazeiras; esse último criado pelo mestre brincante João de Manezim, constituíam a autenticidade mais  popular e expressiva do folclore e da nossa cultura. Quem viu e quem viveu os momentos de brincadeiras, boa parte protagonizadas nos anos 70 e 80 pelo Reisado ou apresentadas por uma dessas vertentes do folclore da nossa cidade, sabe que não foi em vão o trabalho feito pelo antigo NEC/UFPB, na ajuda direta do soerguimento desses grupos brincantes. Entretanto, os tempos passaram, as mudanças surgiram e o tempo sucumbiu nossas raízes, jogando todos eles na linha do esquecimento.
Lembro as imagens que via nas consolidadas Feiras de Artesanato do NEC na Praça das Oiticicas. Quantas lembranças... Por mais distante que ficou, elas ainda não saíram do meu subconsciente. Elas, ainda me reportam aqueles momentos inesquecíveis, onde o destaque de tudo era o Grupo de Reisado, com suas coreografias ritualizadas por jogos de espadas, que quando batiam uma na outra, cuspia fogo, provocando tensão e perplexidade nos curiosos que visitavam a Feira de Artesanato.
Não temos mais essa magia diante dos nossos olhos. O desmanche, a inoperância provocativa de quem poderia ter cuidado mais de nossas raízes culturais, jogou tudo no esquecimento. Jogou dentro de um baú velho a inteligência cultural de nosso povo. Restaram as recordações, e essas, eles não vão tirar da cabeça de que amou, e nem tampouco, de quem ainda ama a cultura de Cajazeiras. De quem a defende. Quiseram banir tudo, varrer para debaixo das suas consciências falhas nossas manifestações folclóricas e culturais, sem deixar procedência nem descendência.
Num pequeno texto de 1978, mas repleto de detalhes, o Professor da UFPB Roberto Benjamin, expõe as características e as dificuldades do nosso extinto Reisado de se manter vivo, promovendo cultura em Cajazeiras. O texto produzido por Benjamin, teve como base depoimentos de membros do grupo, durante uma das versões da Festa Cultural de Nossa Senhora do Rosaria, em Pombal, Paraíba, o qual transcrevo a seguir. Escreveu assim o professor Roberto Benjamin: 

Em 1973, o grupo estava constituído de dez a doze folgazões, que vestiam calças brancas e camisetas, com uns pouco vidrilhos, em forma de estrelas. [...] Um boi dançou na porta da igreja, enquanto o grupo dançava no interior. [...] havia outras figuras, como uma burrinha, que não viera por não terem conseguido pano para cobrir a armação. [...] A orquestra estava composta de violão e pandeiros, um apito que com a marcação do sapateado e o canto, completava a parte musical. [...] Naquele primeiro domingo de outubro de 1975, o Reisado apresentou-se com o "reis", o general, e o Mateus, além dos folgazões. Todos os participantes do grupo portavam espadas de madeira. [...] O entrecho dramático narra o que poderia ser uma revolta na corte do rei do Clarião, do Congo, comandada pelo Secretário. O Mateus trunca o sentido das embaixadas e precipita a guerra. Ao final morrem o "reis" e o secretário [...] O Mateus é consultado sobre a duração da guerra e verifica as horas em seu relógio ... A sequência é encerrada com uma exaltação cívica da bandeira brasileira. Roberto Benjamin, 1978.




fonte: BENJAMIN, Roberto. Festa do Rosário de Pombal. Editora Universitária UFPB, 1978

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