quinta-feira, 28 de junho de 2018

SOZINHO NO CINEMA VAZIO

Cleudimar Ferreira

NA SALA 03 DO CINÉPOLIS - MANGABEIRA SHOPPING

O cinema sempre foi uma das minhas paixões. Em um certo momento da minha adolescente vida, até pensei: e se eu morasse dentro de um cinema e o meu quarto fosse a cabine de projeção! A sensação de prazer que sentiria seria do tamanho de um cinema. Ainda não estou um vetusto, mas essa satisfação agradável que carrego em mim, pelo cinema, não teve fim com o passar dos anos. Tanto é que chegando aos sessenta, essa paixão está mais viva do que no passado. Para alimentar esse meu gostar, acabei adotando o Cine Bangüê como companheiro de fins de semana. Quando nos raros momentos que sou impedido de estar nessa sala de exibição, por motivos operacionais inerentes a administração do cinema, procuro refúgio em outras salas existentes na cidade. E assim, termino nas popularescas e apáticas salas dos shoppings.

Agora, estando o Cine Bangüê provisoriamente, pela segunda vez, lacrado por problema técnicos, resolvi apagar o meu cinéfilo fogo pela sétima arte em outras paragens. Aproveitando o recesso junino da escola que trabalho, me arrisquei numa aventura rumo a zona sul de João Pessoa. Fui ao Cinépolis do Mangabeira Shopping, sem prognósticos ou programação nenhuma, na expectativa de naquelas salas, estivesse em cartaz um filme que me convencesse vê-lo, ou que caísse na graça do meu gosto particular.

Ao chegar no meu destino, vi que dos cincos filmes da programação desse dia, de nenhum eu tinha lido a sinopse ou ouvido falar a seu respeito. Sem opção, foi pela intuição. Escolhi a película cômica policial “Oito Mulheres e um Segredo”, do diretor Gary Ross, mais pelo título e pelo elenco que destacava Sandra Bullock, Cate Blanchett e Anne Hathaway, entre as oito mulheres da trama. Comprei o ingresso; esperei um tempo; quando faltava dez minutos para a projeção começar, entrei no cinema na certeza que a sala estava ocupada por pessoas, que ansiosamente esperava o início do filme.

Mas como nem toda certeza pode estar em conformidade com a realidade. A verdade é que ao entrar no interior do cinema, passei naquele momento a ser o único expectador da sala. Não havia uma só pessoa no local. Eu era o único ser vivo ali naquele espaço quase escuro, em silêncio total a contemplar aquela sombria e inerte caixa de exibição.

CARTAZ COM ELENCO DO FILME "OITO MULHERES E UM SEGREDO"

Liguei o celular por um instante na tentativa de queimar o tempo, na angústia de que aparecesse alguém para me fazer companhia. Tudo em vão. Faltando pouco menos de cinco minutos para começar a projeção, eu continuava a ser o único ali, e comigo, as recordações do passado e do presente, que também começavam a passar pela minha mente, como uma fita de cinema sobre uma lente Scope. Os minutos passavam. Veio as lembranças dos grandes filmes que assisti nos cinemas em Cajazeiras e João Pessoa. Nessas recordações instantâneas, repentinas do meu cinema recluso, viajei pelo universo dos faroestes italianos aos filmes policiais, passando aí pelos de suspenses de Hitchcock, até desembarcar nas grandes produções de terror, que por um longo período, colocou em prova meus nervos, deixando-os a flor da pele quando eu ia vê-las em exibição nos cinemas da minha terra.

Não gosto de ver filmes pesados, pois sou um amedrontando de carteirinha. Mas naquela hora, na sala três do Cinépolis, o que predominou nos meus pensamentos e não queria sair, eram as lembranças de filmes como: Psicose, Premunição, O Exorcista e Sobrenatural. Os poucos do gênero terror que ousei assistir e que foram para mim, uma experiência que não quero mais viver. Em um instante, o medo abateu sobre meu corpo. Veio com o medo os arrepios, a tensão. Olhava de lado, sentia a presença de alguns personagens sentados naquelas cadeiras vazias, sobre a penumbra da sala.

O medo só aumentava e a inquietação também. Tentei relaxar, esquecer aquele momento fechando os olhos. Porém as inesquecíveis cenas de Linda Blair em "O Exorcista”, me fez abrir os olhos e foca-los sobre aquela tela vazia a minha frente. Por uns segundos, senti Linda Blair, em 3D, ali presente, com sua voz rouca, revirando os olhos, enroscando o seu pescoço, vomitando verde, vindo em minha direção. Aguçando mais ainda o meu pesadelo, não dando trégua.

Com o emocional fora de controle, percebendo, portanto, que a sala estava ficando pesada demais, resolvi sair. Quando levantei da cadeira, ouvi vozes de um casal que naquele instante adentrava na sala para me fazer companhia. Aliviado com a chegado do casal e não me sentido mais só, decidi ficar. No mesmo instante, me dirigi ao casal afirmando: até que fim vocês chegaram para me fazer companhia! Então, aquele desconhecido rapaz, que fazia par com uma mulher parda, olhou para mim e perguntou: porque? E assim eu respondi a ele: por que eu estava sozinho com os fantasmas desse cinema. Ufa! 

SALA DE EXIBIÇÃO DO CINE BANGÜÊ - FUNDAÇÃO ESPAÇO CULTURAL
ATUALMENTE FECHADA POR PROBLEMAS TÉCNICOS NO 
EQUIPAMENTO DE PROJEÇÃO






quarta-feira, 20 de junho de 2018

Com apoio da Secult, caravana da Cia Boca de Cena trará oficinas e espetáculos a Cajazeiras




O Secretário de Cultura e Turismo de Cajazeiras, Ubiratan de Assis, acertou com a Cia Boca de Cena uma parceria que trará, nos dias 6 e 7 de julho, a Caravana Patrimônio Nosso para apresentações e oficinas na cidade. “A Secretaria tem buscado apoiar as mais diversas manifestações artísticas e não será diferente com a caravana da Cia Boca de Cena”, afirmou Ubiratan, após reunião com Artur Leonardo e Barbosa e Amanda Viana, da Cia.
A Cia Boca de Cena é uma entidade civil de direito privado que há 21 anos desenvolve na Paraíba um trabalho de pesquisa, documentação e fomento ao teatro de bonecos popular do Nordeste. Em sua trajetória, vários projetos foram desenvolvidos, levando à população apresentações de espetáculos, oficinas de educação patrimonial, oficinas de elaboração de projetos culturais, circulação e rodas de conversas com mestres bonequeiros, produção de artigos acadêmicos, exposição de bonecos populares, Encontro de Brincantes de Babau, entre outros.
A Caravana é um conjunto de ações de educação patrimonial com atividades lúdico-educativas, capacitação, sensibilização sobre a importância da preservação e manutenção dos patrimônios culturais materiais e imateriais do estado. Além de Cajazeiras, a Caravana vai passar, também, por outras cidades do Sertão, como Sousa, Pombal, Princesa Isabel e São João do Rio do Peixe. A programação da Caravana em Cajazeiras será divulgada em breve.


matéria divulgada na página: cajazeiras.pb.gov.br

CULTURA JUNINA NA CÂMARA

    Fotos - Destaque:   


A Câmara Municipal de Cajazeiras, abriu suas portas para receber os focos representativos da cultura e das artes na cidade. O momento oportuno se deu, para marcar a audiência pública, que objetivava debater sobre as festividades culturais, regionais, comemorativas no mês de junho em Cajazeiras. Fotos: Cavalcante Júnior.

















quinta-feira, 14 de junho de 2018

A PRAÇA JOÃO PESSOA E SUA HISTÓRIA

Pereira Filho
Radialista cajazeirense na Rádio Nacional




“Quem for a Cajazeiras e não conhecer a Praça João Pessoa, é mesmo que ir a Roma e não conhecer o Papa”. Acredito que essa frase tem tudo a ver com a principal Praça de Cajazeiras, porque ela já foi palco de grandes manifestações em todos os sentidos. Carnaval, Desfile de 7 de setembro, Eleição Municipal, Semana Universitária, centenário do município em 1964, etc.

No carnaval, à noite, os foliões se dirigiam aos clubes Tênis Clube, 1º de maio, Jovem Clube e AABB. A Orquestra Manaíra, de Mozar de Assis, era sucesso total nos carnavais do Tênis Clube. Já à tarde, via-se um grande número de famílias e foliões na Praça João Pessoa com seus blocos de rua, escolas de samba, desfiles de jeeps, entre outras manifestações, fazendo a festa carnavalesca como um todo. Entre as escolas de samba tinha a de João de Manezin, que se destacava mais. Eu desfilei na Escola de Samba 2000, em 1971. O bloco de rua mais famoso de Cajazeiras era o de ‘seu’ Sinval do Vale, o “Mamãe Sem Nora”. Quem não se lembra da lança perfume? Já fiquei zonzim com lança perfume encharcada no lenço. Neste momento eu via a Praça João Pessoa bem pequenina.

Nos desfiles do dia 7 de setembro os grupos escolares Dom Moisés Coelho, Monsenhor Milanês e mais o Colégio Diocesano Padre Rolim, o Colégio Estadual, o Colégio Nossa Senhora de Lourdes, o Colégio Comercial e o Tiro de Guerra faziam suas apresentações sob olhares de cajazeirenses e cajazeirados, que aplaudiam a todos que representavam essas instituições educacionais. Quando eu estudava no Colégio Estadual, eu sempre fazia parte da banda marcial, porque dominava o instrumento tarol.

Nas eleições municipais, os comícios realizados na Praça João Pessoa tinham a grande presença do povão. Geralmente, o palanque era a carroceria de um caminhão, que ficava estacionado em frente a Lanchonete Merendinha. Neste palanque, os políticos, com suas promessas caso fossem eleitos, faziam com que todos ficassem atentos. Lembro-me muito dos comícios de Chico Rolim e Raimundo Ferreira, que eram adversários para a conquista de mais um pleito eleitoral. Nesta época, muitos jovens paqueravam as garotas nos comícios e muitos acabavam encontrando a menina para um namoro firme.

Na Semana Universitária, universitários cajazeirenses que estudavam em diversas cidades do Brasil (Campina Grande, João Pessoa, Fortaleza, Natal, Recife, etc) juntos com os que estudavam na FAFIC – Faculdade de Filosofia de Cajazeiras, participavam de diversas modalidades competitivas em diversos locais da cidade e a Praça João Pessoa era uma delas. A Semana Universitária era realizada sempre em junho/julho, período de férias escolares da cidade. Universitários e estudantes das entidades de ensino de Cajazeiras se faziam presentes nessas comemorações e, o melhor de tudo isso eram as festas no Tênis Clube, 1º de Maio e Jovem Clube, com apresentações de conjuntos musicais vindos de fora da cidade (exemplo, Os Fabulosos do Recife) além de Chico Bem Bem e Seu Conjunto, entre outros.


Nas comemorações do centenário do município, autoridades, políticos e pessoas de diversos segmentos da sociedade marcaram presença no palanque, usando as palavras sobre a história de Cajazeiras e sua importância para o município.

Um momento muito visitado da Praça João Pessoa, principalmente pelos turistas, e também pelos moradores de Cajazeiras, era o Por do Sol visto do baldo do Açude Grande. Subia-se as escadarias e ao término da subida já se dirigia para sentar-se no banco de cimento e apreciar o espelho d'água do açude refletindo com os raios do Por do Sol. Era um espetáculo feito pela natureza do Pai Eterno.

À noite a Praça João Pessoa era ponto de encontro, principalmente dos Penetras (alguns deles: os irmãos Neto, Marcelo, Martus, Zé Dava e Ciro Xavier; Nilmar, Marcelo, Rafael e Domício Holanda; Dedé bundão, Walter boca de véia, Paulo Antônio, Ferreirinha, Pirão, Marcílio Cartaxo, Ubiratan, Ivan Braga, João Eudes Braga, Djones, João Eudes e Neném de seu Eudes, Juarez, João e Filgueira Moreira, e tantos outros). Tinha também outros asilados, como os irmãos Pereira – Erisvaldo, Sales, EU, Toinho, Valdin, Eduardo e Ivaldo, etc. Todos estavam na Praça para aquele bate-papo sobre diversos temas – futebol, política, mulheres, vida alheia, etc. Grupinhos eram formados ao longo da praça onde era dividida em três trechos com bancos de cimento: em frente ao Restaurante de Ionas; em frente à casa de Celestino e em frente ao Cine Éden. No encosto dos bancos tinha inscrições comerciais do tipo “Oferta do Armazém das Fábricas”, “Oferta do Armazéns Paraíba”. Ou seja, no encosto de cada banco de toda a praça, tinha sempre inscrições de propagandas do comércio cajazeirense. Um detalhe: além de sentar no assento do banco, gostávamos também de sentar na parte superior do encosto.

Aos domingos à noite, além dos grupinhos ficarem discutindo sobre o jogo que rolou na tarde de domingo no Estádio Higino Pires Ferreira, tinha o desfile das garotas que vinham da Catedral após assistirem a Missa das sete e as que tinham assistido ao filme no Cine Éden. Que beleza de desfile. Loiras, morenas, ruivas.... Enfim, elas eram o destaque na passarela da avenida. O Cine Éden sempre ficava lotado aos domingos à noite, quando tinha duas sessões: das 18h e das 20h. Minha irmã Nem e minha vizinha Eladir, filha do meu vizinho, o maestro Esmerindo Cabrinha, eram frequentadoras da sessão das 18 h do cinema. Este cinema, por funcionar na Praça João Pessoa, devido sua localização, sempre estava lotado aos sábados, domingos e feriados.

Em frente ao Cine Éden, para quem gostava de apreciar uma chupadinha de picolé, Elias do picolé de Walmor estava lá e ainda fazia suas presepadas para agradar o cliente. Tinha também dona Francisca, que ficava ao lado da carrocinha de Elias, vendendo rolete. Tinino, um senhor magro e negro, também estava na praça com seu carrinho de pipoca, com um sorriso que conquistava todos que comprassem ou mesmo que o cumprimentasse.
Lembro-me muito bem que o Cine Éden sempre colocava uma tabuleta para anunciar o filme do dia e ficava amarrada num poste geralmente no início da Praça João Pessoa.



Proprietários de carros: Jeeps, Rural, Aero Willys, Gordine, entre outros, tinham o prazer de desfilar na Praça aos sábados, domingos e feriados à noite, para mostrar seus possantes. Nesta Praça, acredito eu, muitos casais que ali paqueravam, hoje são felizes casais de namorados eternos. As estudantes do Colégio Nossa Senhora de Lourdes, do Estadual e do Comercial eram as garotas da cidade mais paqueradas na Praça.

Cito alguns nomes de moradores e lojas comerciais existentes na Avenida Presidente João Pessoa, conhecida como Praça João Pessoa, na década de 60, época em que eu morava em Cajazeiras. Como falo de memória, essas informações, é claro que alguns moradores ou comércio deixarão de ser citados. Em frente à Praça funcionava a Merendinha de Chicão. Descendo a avenida, à direita, o prédio com primeiro andar funcionava em cima o Serviço de Alto Falante Difusora Cajazeiras e, em baixo, a loja de eletrodoméstico Carvalho Dutra, de Mozart Assis; a seguir a sinuca de Zé Eliseu; depois o Bar e Restaurante Alvorada de Ionas; a seguir a Tipografia São José de seu Nezinho; a seguir, o consultório de Dr. Waldemar Pires; na sequência tinha o beco que dá acesso a Igreja Nossa Senhora de Fátima. Na esquina seguinte funcionava a Sorveteria Trianon de Chatô (Chateaubriand); logo após a casa de Chico Corrêa; a casa de seu Eudes Cartaxo; a seguir a marcenaria de seu João Cassiano; adiante, a casa de Celestino; a seguir a Radiotécnica de Zé de Totô; logo após vem a sinuca de seu Sérgio David, que era administrada por Fuampa. Na esquina seguinte, a sinuca de Dedé do chapéu; depois a sorveteria do pai de Everardo e, a seguir, o Cine Éden, de Carlos Paulino. Em cima da sinuca de Dedé funcionava o Jovem Club. 

Auditório do Cine Éden no Início dos anos 70, manhãs de domingo, 
Programa Show de Calores da Radia Difusora de Cajazeiras

Na esquina seguinte, a Concessionária Chevrolet; a seguir a casa de Pedro Moura; depois a casa de Pedro Flor; a seguir a casa de Mirtes e Marcelo Cartaxo e, finalmente, as escadarias do baldo do açude. Subindo a avenida à direita, o prédio em construção de um cinema, que está na Justiça há muitas décadas; a seguir, na sequência: a casa de Renê Moésia; a casa de Nilson Lopes; a escolinha de dona Mônica Claudino; e a bodega na esquina. Na esquina seguinte, a casa dos Barbosa; a casa de Leonel Moreira; a casa de seu Zé Gonçalves; a casa de Irapuan; a casa de Gérson das confecções; a casa de Benú Moreira; a Companhia de Eletricidade de Cajazeiras e, em cima funcionava a concentração do time de futebol Estudante. Na esquina seguinte, a casa de João, cunhado de Perpétuo; a casa de Sibito; o Sesc; a casa de Nestor Rolim; a Cooperativa de Antônio Rolim; o Bar Serra Grande; a Pernambucana, e em cima dela o DER. Lembro que em frente ao consultório de Dr. Waldemar Rolim tinha um mini quiosque, que ficava em cima da calçada e era de Nelito Preto e na lateral da Pernambucana, em cima da calçada, tinha a banca de revistas de Chico Bem Bem.

Segundo minha mãe, dona Maria Pereira (dona BIA), quando nasci morávamos de aluguel na casa de Benu Moreira, que ficava em frente ao Cine Éden. Quando eu tinha meus seis anos de idade, fomos morar em um outro endereço da Praça João Pessoa, na casa que ficava ao lado das escadarias do baldo do açude.

No relato e descrição de todas essas informações, observei que a Praça João Pessoa foi realmente um marco histórico para a cidade de Cajazeiras dentro de suas circunstâncias e acredito que uma outra praça da cidade não virá a fazer tanto sucesso como a Praça João Pessoa. Com o crescimento da cidade, várias atividades sociais foram transferidas para outros locais, a exemplo da Rua Juvêncio Carneiro com o tradicional Carnaval no ‘corredor da folia’ e a festa junina de São João na Praça Xamegão.

Carnaval na Av. Presidente João Pessoa. A direito da foto. Em cima, 
(primeiro plano), o Edifício Ok onde funcionou o Jovem Clube. 
Em baixo, no canto, o Cine Teatro Éden.

Carnaval dos anos 50 e 60, era assim: Na Av. Oreseidente João Pessoa,
desfiles de carros, muito pó e agua (mela-mela). trecho 
do edificio Ok e Cine Eden
  





fonte: Página social do autor - Facebook

terça-feira, 12 de junho de 2018

REABERTURA DE TEATRO DÁ NOVO FÔLEGO À CULTURA DE CAJAZEIRAS

Linaldo Guedes
linaldo.guedes@gmail.com



Produtores culturais da cidade comemoram o atual momento da cidade e preparam novos projetos


Fazer teatro não é apenas colocar os atores no palco e encenar um texto para um público ávido por bons espetáculos. Uma boa produção é garantia de que tudo vai acontecer dentro dos conformes, para que o resultado final seja convincente. Desde a reabertura do Teatro Íracles Pires, em Cajazeiras, numa ampla reforma do governo do Estado, que a Cajazeira Produtora vem “bancando” a maioria dos espetáculos que se apresentam na região, inclusive de produções nacionais.

Beethoven Ulianov Dantas e Wanderley Figueiredo de Sousa, também atores, são responsáveis por este trabalho. Segundo eles, a Cajazeira Produtora surgiu a partir da necessidade de fomentar a cena teatral e cultural da região. “Nosso foco está inicialmente voltado para a produção teatral, visando a captação e produção cultural de grandes espetáculos com profissionalismo e excelência. Para isso, contamos com uma equipe de grande know-how na área, aliado a vários parceiros e apoiadores. Estamos sempre querendo inovar, no intuito de trazer ao mercado cultural o que há de melhor no âmbito da arte e do entretenimento com ética, respeito e qualidade”, explicam.

Para Beethoven Ulianov, a maior alegria é ver a reação do público. “A nossa intenção é fazer as pessoas rirem, se emocionarem e quando a peça toca as pessoas é muito gratificante! Dificuldades são muitas; cultura não é autossustentável, então precisamos de muita gente envolvida para que as coisas aconteçam”, declara.

Já Wanderley Figueiredo acredita que a maior alegria é ver o crescimento do público no teatro e a expansão intelectual que a arte pode trazer. “Mas claro que só estamos no início e ainda temos muito a evoluir, a fomentar. A maior dificuldade, sem dúvida, seja essa: trazer o público ao teatro, fazer com que ele se apaixone pelos palcos e se aproxime que ele entenda que teatro é muito mais do que entretenimento, teatro é crescimento, educação, é arte. Nosso maior empenho é ver o sorriso de uma pessoa, o choro, ver alguém pensando, questionando, se emocionando durante o espetáculo, essa é a nossa maior conquista”, acrescenta.

Sobre a relação do público cajazeirense com a cena cultural, Beethoven lembra que Cajazeiras é berço de cultura, é exportadora de talentos na arte. “Estamos recriando o hábito na população em frequentar teatro e estamos evoluindo nisso. Mas precisamos tirar esse estigma de ‘só ir ao teatro para ver somente os atores famosos’’. É preciso valorizar os de casa, tem muita coisa boa sendo construída aqui. A programação de maio foi toda com espetáculos de Cajazeiras porque temos grandes talentos aqui”, enfatiza.

Wanderley destaca que o público cajazeirense é interessado, inteligente e exigente no que querem assistir. Mas precisa ainda uma aproximação maior com o teatro, saber que entretenimento também se acha nos palcos. “Ficamos ‘mal-acostumados culturalmente’ com esse intervalo de tempo teoricamente parados pela reforma do Ica. Teatro é mais complexo do que se pensa, e muitas vezes o público associa qualidade à artistas de TV, aos grandes famosos. Isso não é verdade, existe um mundo muito além desses artistas”, frisa.

Atualmente, dois sonhos movem o trabalho da Cajazeira Produtora: produzir espetáculos pela Paraíba inteira, com toda excelência e qualidade que nossa cultura merece e colocar Cajazeiras definitivamente na rota dos grandes espetáculos nacionais, que estão hoje concentrados no eixo Rio/São Paulo, como também levar arte local para além da região.

O ponto de partida das atividades da Cajazeiras Produtora foi a peça “Trinca, mas não quebra”, consagrando a parceria. Dessa forma, o abrir das cortinas dos palcos tornou-se atividade frequente para a dupla. Em pouco tempo, a Cajazeira Produtora já coleciona trabalhos realizados em um portfólio com diversos espetáculos produzidos, atingindo sempre grandes públicos. A produtora tem, ainda, como contrapartida social um Curso de iniciação ao teatro grátis no NEC (Núcleo de Extensão Cultural da UFCG).



fonte: Jornal A União, 10 de junho/18, 2º caderno

sábado, 2 de junho de 2018

SÃO JOÃO EM ZUZA EMÍDIO

Cleudimar Ferreira



Acorda, acorda!
Acorda que hoje é noite de São João.
Ah!... Tão esquecendo que vai ter um grande baile na casa de Zuza Emídio!

Assim falava minha mãe, batendo forte nos punhos das redes onde dormíamos, acordando-nos logo sedo, na manhã daquele dia. Estonteados e desorientados, pulávamos no chão e ainda com os olhos pregados de remelas, corríamos em direção à cozinha. Sentávamos a mesa, repleta de espigas de milho cozinhadas; um bolo de milho assado em de forno de lenha - que meu pai no verão havia instalado no terreiro da cozinha; e pratos de canjicas, que enfeitava de amarelo-ouro aquela nossa primeira refeição do dia.

O meu pai já impaciente - e com razão, resmungava, passando para lá e para cá, quase tirando faísca da mesa, arregalando seus olhos para nós, pois naquele dia fora o primeiro a acordar cedinho e já havia feito a sua habitual tarefa vespertina - a de ir buscar água no riacho, encher os potes do líquido e tirar o leite das cabras. Minutos depois, já estava esperando a nossa chegada no “peituri” da casa. E assim, seguirmos todos em direção ao Rio Santo Antônio, buscar troncos secos de árvores para montagem da fogueira de São João.

Quando despontávamos no alpendre da casa onde morávamos, a cangalha já estava arranchada no inspiaço de jandaíra, que passivo como sempre, aguardava juntamente com meu pai a nossa chegada. Eu era o primeiro a subir no lombo do animal e a minha irmã, se arranchava como podia na garupa. Segurando as rédeas, conduzíamos aquele pobre jumento em direção os baixios onde ficava o rio.

De ladeira abaixo, no sinuoso percurso que traçava aquela formação irregular do solo, ora lajeiro, ora paredão rochoso ou pedregulho que nos levava até o rio, o que se via nas beiradas do caminho além das roças de milho e feijão, eram pessoas que iam e vinham. Muitas delas, trazendo verduras, legumes e frutas frescas colhidas nos roçados. Outras conduzindo nos cambitos dos burros, enormes pedaços de madeiras secas, apodrecidas. Naquela descida que nossos passos trançavam, sempre que cruzávamos com uma daquelas pessoas, o cumprimento já significava uma parada obrigatória. E na conversa ligeira, o assunto era a mesmo:
-      Bom dia compade João.
-      Bom dia compade Zé.           
-      Vai hoje pô baile de Zuza Emídio?
-      Voou!... Respondia meu pai ao amigo João.
E assim continuava a conversa...
-      Parece compadre João, que o tocador vai ser Manel Filipe.
-      Apois não é mesmo, compade Zé!
-      Tomara que seja compade, o home toca muito.
-     É... Compadre. Eu não vi até hoje, um caba pá tocar tão bem como Manel Filipe. E olhe! Só toca Trio Nordestino e Noca do Acordeom.
-      É mesmo, aqui na nossa região, ninguém toca melhor do que ele não!

A conversa não podia ser extensiva, pois o meu pai precisava ser rápido na sua caça os troncos secos e se não agisse assim, poderia até não encontrar mais a tão preciosa madeira, já que a procura era grande.

Casa (com alpendre) onde morávamos no Sitio Catolé

As toras de paus eram trazidas a reboque na correnteza durante as primeiras grandes cheias do ano que o rio dava. Ficavam engasgadas na pequena vegetação que protegia as margens, em toda extensão do rio. Mesmo o rio ainda não estando com muita água, pulávamos todos naquela correnteza, seguíamos em direção aos troncos que estavam na outra margem. Abraçávamos aqueles pedaços de pau e com a ajuda da correnteza levávamos boiando a “tora” até a outra margem do velho Santo Antônio; num trabalho conjunto que unia todos, eu, minha irmã e o meu pai. Já em terra firme, na margem do rio onde ficava jandaira e os nossos apetrechos, pegávamos os paus-secos e amarrávamos com uma corda, puxávamos até um local mais seguro, um banco de areia, escorávamos as “toras” na cangalha de Jandaíra e rumávamos de volta para casa. Esso era um momento de festa e divertimento para todos nós.

Na volta, o caminho que nos conduzíamos a residência onde morávamos, boa parte do seu percurso era tomado por grandes roçados de milho, e aquele cortejo tendo como guia o jumento “jandaira”, fazia o bicho subir aquela imensa ladeira a reboque. E assim, seguíamos rumo ao terreiro de nossa casa, com meu pai sempre tocando infeliz animal à base do açoite. Vez por outra ele, parava e entrava no imenso milharal a beira do caminho e saia quebrando as espigas e jogando em nossa direção. Pegamos as gordas espigas verdinhas ainda regadas com pingos do orvalho da noite anterior e aos poucos eu e minha irmã íamos enchendo os caçoas.

Ao chegar a nossa casa, desbancávamos as toras de paus e os caçoas cheios com as espigas de milho. Minha mãe e as minhas outras duas irmãs, viravam os caçoas e ali mesmo, começavam a desfolhar as espigas que seriam usadas para fazer a costumeira canjica, além da pamonha e o bolo assado com gordura de porco, cuja forma era feita de palha de bananeira, assado em forno a lenha.

Na localidade onde morávamos, as residências não ficavam muito distantes uma das outras e o empenho de todos, para armar a maior fogueira do lugar, a cada ano ia se tornando numa saudável disputa. A queima no período das festas junina, era quase num ritual sagrada, pois era nelas que muita gente fazia seu pedido a São João e a São Pedro e se tornavam “Compadre” umas das outras. Dessa forma se firmava cada vez mais o laço de amizades que uniam todos. Era compadre e comadre “praquí” e “praculá”. E para tanto, as fogueiras tinham que serem grandes, pois a madeira colhida precisava queimar a noite toda indo até à tarde ou a noite do outro dia. Pois como era dia de São João, a tarde desse dia, o costumo de todos e meu pai não deixava passar em branco, era soltar o resto das bombas, traques e rojões guardados com carinho para festejar a tão importante ocasião.

O dia passava rápido, as tarefas de nossa família iam sendo compridas. Minha mãe já havia engomado todos as roupas que íamos vestir naquela noite. Vez por outra, ela saia para casa de um vizinho à procura de alguma coisa que faltava para os preparativos do grande baile. Da mesma forma, nossa casa também era visitada por uma comadre que chegava atrás de algo que faltava em sua casa. Todos naquela localidade, se ajudavam como podiam para não faltar nada e não perder o baile.

Casa do Senhor Zuza Emídio, onde eram realizados os grandes bailes de forró, a maioria animado por Manel Filipe.

Quando aproximava às seis da noite, já estávamos todos vestidos e perfumados. E assim... sem muito demora, seguíamos com as demais pessoas em direção a casa de Zuza Emídio. O primeiro e complicado obstáculo para se chegar ao grande baile, era o rio, pois naquele período junino, o mesmo sempre tomava muita água das últimas chuvas do inverno. Quando aproximávamos da margem do Santa Antônio, as mulheres tinham que parar, se acocorar e esperar que os homens e as crianças do sexo masculino chegassem até a beira do rio. E lá, se despissem, pegassem uma balsa feita de troncos de bananeiras - que já havia no local. Sobre a balsa, eram colocadas as crianças que não sabiam nadar e as roupas e os adereços de todos. Como todos os homens ali sabiam nadar muito bem, dois ficavam para conduzir, guiar a balsa até a outra margem onde seguia o caminho até o local do baile, e as outros enfrentaram as águas corretes do rio a braço. E assim atravessam o rio.

Chegando no outro lado do rio, na outra margem, todos vestiam suas roupas e andavam uns trinta metros, depois paravam para esperar as mulheres que viriam logo a seguir. Para que as mulheres atravessassem as correntezas do rio, um dos homens voltava sozinho, nadando, conduzindo a balsa até o outro lado do rio, para que as mulheres fizessem o mesmo trabalho que os homens haviam feitos, e assim, também atravessar. Ao chegar com a balsa na margem do rio onde as mulheres esperavam, o condutor da balsa ancorava a mesma no local combinado e gritava alto:
- Podem vir agora!
Imediatamente, esse mergulhava no rio de volta ao local onde os outros homens esperavam.  

Após atravessar o rio, seguíamos todos em direção ao local do forró, a residência de Zuza Emídio. Como era noite de São João, as casas que ficavam a margem do caminho onde passávamos, víamos as fogueiras queimando, crianças soltando bombinhas. Em muitas casas, as famílias estavam saindo para ir também ao forró e se juntavam conosco em direção a casa de Zuza Emídio. Quando chegávamos, já havia muitas gentes no meio do terreiro batido a maio. Bandeirinhas esticadas enfeitando o teto do terreiro. Uma magia de cores que meus olhos viam, que não havia igual. A elegância das moças e rapazes; das senhoras e dos senhores; das esposas e dos esposos, evidenciava que a festa seria grande.

No terreiro iluminado por lampiões a álcool e fachos de fogo provocado por algodão úmido em querosene, aparecia no canto da parede Manoel Filipe e o seu conjunto. Quando a sanfona vermelha do jovem tocador era retirada da caixa, crianças e curiosos faziam um círculo ao redor do forrozeiro. E assim, sobre os olhares de todos, se prepara Manoel Filipe até o início do forró. Quando começava o baile, os casais se atracavam no meio daquele terreiro, preparado com barro massapê e areia grossa, trabalhado com carinho em três camadas por homens da comunidade do entorno da casa de Zuza Emídio.

A animação tomava conta de todos. O sanfoneiro sem parar, rasgava a sua sanfona tocando músicas de Luiz Gonzaga, Trio Nordestino, Noca do Acordeom e outras estrelas do xote, do forró, do baião e do xaxado nordestino. Depois de algumas horas, a poeira tomava conta do terreiro, cobria todos de terra, de pó fino. E assim, o baile era interrompido, para que fosse aguado o terreiro, para em seguida ser recomeçado o baile.

Manel Filipe (in memoriam) era o melhor sanfoneiro da época

Quando o baile recomeçava, iniciavam também a cobrança da cota. Durante esse momento, duas pessoas de confiança de Zuza Emídio, apartava os casais que estavam dançando e cobrava apenas dos homens um valor simbólico, que dava direito ele dançar com qualquer parceira, até o final do baile, as seis da manhã, ao raiar do sol. As horas passavam, mas a noite parecia não ter fim. Por volta das duas da madrugada, muita gente no terreiro, prenunciava que o forró estava no seu maior momento. Nesse momento, as lembranças me vêm à tona, e me faz lembrar que as crianças, inclusive as minhas irmãs, já estavam dormindo nas redes improvisadas, nos quartos que ficavam nos fundos da casa do dono da festa.

A essas horas da noite, sobre a penumbra dos lampiões que ficavam distantes, alguns casais deixavam o terreiro do forró e se dirigiam aos arredores e encostavam nas cercas e nos carros, para iniciar nesses locais os primeiros namoricos. Os casais pegavam suas crianças embebecidas de sono e saiam por entre as bancas mostrando e oferecendo aos seus filhos, comidas e outros mangaios comuns do período junino, como: Bolos de milhos ou de caco, beiju, tapioca, garapa de cana, café e até kisuco de morango com pão doce. Misturados com os bombons, com os Chicletes Proc e PingPong, além dos Chocolates Sonha de Valsa e os pirulitos coloridos, constituíam os confeitos trazidos da cidade, que se tornavam nos olhos das crianças, uma novidade, já que não era de costume esse tipo de merenda nos paladares das crianças que moravam naquela região onde também ficava a casa de Zuza Emídio.

Nas banquinhas de festejos; as chuvinhas, os traques eram os melhores atrativos para as crianças, que se deslocavam com seus pais até a imensa fogueira, para soltá-los ou esquentar o frio da madrugada. Tudo isso acontecia sob o meu olhar, sob os olhares de muitas crianças que como eu viveu esse tempo. Sob os olhares das minhas irmãs, pois parte do forró meu pai ficava com Adonias ajudando Zuza Emídio na venda das bebidas e minha mãe na cozinha ou conversando com a comadres nos arredores daquele terreiro lotado de gente dançando, avivados e animados ao som da sanfona de Manel Filipe, principalmente por ser aquela noite, a noite de São João.

DEIXE O SEU COMEMTÁRIO






Colaboração: Sag. Marcos Aurélio Ferreira Alves