sexta-feira, 22 de março de 2019

CODINOME ASA BRANCA - O CANGACEIRO DE CAJAZEIRAS.

Cleudimar Ferreira



Nas primeiras décadas do século passado, as cidades do sertão nordestino estavam por inclinação social, sujeitas a serem verdadeiros ninhos geradores de desocupados, que pela própria condição que o tempo determinava, ou enveredavam pelos caminhos do cangaço ou pelas hostes das improvisadas “volantes policiais”, formadas para combater o cangaço e suas práticas antissociais que causava medo e insegurança as populações dos lugares mais distante do Nordeste. Quase não havia outra saída. Por esse viés enigmático, poucas eram as vilas e os povoados do interior sertanejo, que não tinha um filho seu como integrante de um grupo de cangaceiros. Basta um mergulho na história; entrar nos fatos que desenharam a epopeia da região nordestina, que deparamos com exemplo de personagens que se aventuraram pelo mundo do cangaço.

Nessa condição, Cajazeiras, na Paraíba, como uma cidade desse remoto período, integrante dessa geografia humana-oficial, não podia ficar de fora. E não podia não, já que na sua história, amarga o melancólico momento de ter oferecido o seu leito para acolher em seu colo Sabino Gomes de Goes - Sabino das Abóboras, que nas trevas da ingratidão, feriu mais tarde a sua hospitalidade com um ataque violento contra a sua população. Sabino não era cajazeirense! Era um forasteiro a revelia, errante fugitivo das bandas do Vale do Piancó.

Menos vexatório do que Sabino foi o anônimo despercebido Antônio Luiz Tavares, de alcunha Asa Branca. Asa Branca que era filho natural de Cajazeiras, nasceu no dia 10 de janeiro de 1902 e tinha como pais o senhor Antônio Luiz e dona Maria da Conceição. Sobre o seu nascimento, uma outra data aparece na história de Asa Branca, que vai provocar embaraços e confundir o registro correto do seu nascimento. É a do dia 13 de agosto de 1013, conforme consta no registro do seu casamento com Francisca da Silva Tavares, sua segunda esposa. Segundo declarou Francisca da Silva Tavares, durante os preparativos do matrimônio dos dois em Mossoró, o mesmo não querendo ir até Cajazeiras para solicitar sua certidão de nascimento, preferiu registrar-se na cidade de Portalegre no Rio Grande do Norte. Criando uma outra data que marcasse o seu nascimento, e assim, poder se casar e arranjar um trabalho.  

A entrada de Antônio Luiz Tavares - Asa Branca, no cangaço, segundo rumores baseado no que o próprio Asa Branca afirmava, se deu por motivos do mesmo ter vingado a morte de seu pai. Ele contava que teve o pai assassinado em Cajazeiras, quando tinha dois meses de vida. Com o passar do tempo, quando chegou aos treze anos, descobriu os reais motivos e as causas da sua orfandade prematura. Intrigado com o que havia acontecido com o pai, ele foi a desforra matando o criminoso que assassinou seu pai. Sendo o homem que matou o pai dele, na época, um protegido do chefe político da cidade, possivelmente o prefeito Sabino Gonçalves Rolim, que governou Cajazeiras ente os anos de 1913 a 1929, Asa Branca, mesmo não sofrendo praticamente nada por ter praticado o crime, mas temendo que mais tarde morresse nas mãos da polícia ou de outros cabras, preferiu entrar no cangaço. Se afastou da cidade e foi ao encontro de Virgulino Ferreira da Silva, Lampião. 

“Lampião me aceitou e eu foi cumprir a minha sina. Vida dura e difícil, mas em todo caso era vida. No cangaço a gente faz muita coisa que não gosta, mas muita pior era não viver. Lutar com a polícia para viver era muito melhor do que ter certeza de que morreria se caísse nas mãos dos parceiros do homem que matou meu pai. ” Afirmou certa vez em vida Asa Branca.

Segundo Asa Branca, o seu encontro com Lampião se deu em 1922. Um ano depois de ter cometido seu primeiro crime. Nesse ano, o afamado cangaceiro de Vila Bela fez uma visita à propriedade onde Asa Branca estava escondido. A facilidade com que o jovem, de apenas 14 anos, fazia o uso de armas de fogo, aguçou a curiosidade do Rei do Cangaço, que logo o convocou para fazer parte de seu grupo. No bando de Lampião, Antônio Luiz Tavares, logo foi batizado de Asa Branca, que devidamente já incorporado ao grupo, passou a fazer incursões pelos sertões por cinco anos, tomando parte em todos os assaltos, praticando atrocidades que a vida errante do cangaço lhes impunha.

Considerado pelos demais companheiros do mundo do cangaço como um integrante de bons modos e trato amável, Asa Branca participou das investidas contra as cidades de Apodi e Mossoró, no Rio Grande do Norte. Na cidade de Mossoró, esteve na trincheira, em combate na Estrada de Ferro. Logo depois da ação malsucedida de invasão a Mossoró, Asa Branca foi preso pela polícia militar do Estado do Ceará e recambiado para Mossoró, onde foi jugado e condenado pelo o então promotor Abel Freire Coelho, a passar dez anos na cadeia. Depois de ter cumprido a sua pena, ele voltou para o Ceará. Tempos depois, já esquecido pela sociedade a qual cometeu tantos delitos, voltou a Mossoró restabelecido socialmente, como cidadão pacato, pai de família e trabalhador do Instituto de Educação da cidade, convivendo com alunos, diretores e professores.

Asa Branca faleceu no dia 02 de novembro de 1981, às 09 horas e 30 minutos, em Mossoró em consequências de problemas cardiorrespiratórios e foi sepultado no cemitério público São Sebastião, em um túmulo colado ao de José Leite de Santana, conhecido nas veredas do cangaço, como Jararaca.



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Legenda das fotos: 
1ª) Fotografia de Asa Branca logo após ser solto da prisão que cumpriu em Mossoró
2ª) Fotografia mais recente de Dona Francisca da Silva Tavares, segunda esposa de Asa Branca.
3ª) Fotografia mais atual de Asa Branca em jazido onde foi sepultado
4º) Autorretrato de Asa Branca



fontes: Blog do Mendes e Blog Cariri Cangaço

2 comentários:

Mendes e Mendes disse...

Cleudimar Ferreira, você que mora em Cajazeiras deveria fazer uma pesquisa para saber mais sobre o Asa Branca. Se por aí existe família chamada Tavares, e quem sabe, iria adquirir uma fonte melhor sobre o cangaceiro Asa Branca. Eu sou o administrador do blog http:blogdomendesemendes.blogspot.com

Felicidade e paz.

Francisco Cleudimar F. de Lira disse...

Sou natural de Cajazeiras, mas não moro na cidade. Deixei a cidade em 1985 e não voltei mais. Só vou lá a passeio. Sobre Asa Branca, a cidade não oferece informações sobre parentes dele, nem de sua descendência, seja de segundo ou terceiro grau. Esse blog "Cajazeiras de Amor" é específico em divulgação de assuntos ligados a arte, a cultura e muito pouco sobre a história da cidade. Os conteúdos que há sobre o gênero Cangaço, são quase nada. Parabéns pela manutenção do seu blog, sou admirador do seu trabalho.

Abraço amigo e boa noite.