terça-feira, 11 de junho de 2019

HOMENAGEM A DONA ICA

por Gilvan de Brito
Postagem publicada do Facebook do autor em 11 de junho de 2016

O autor - Gilvan de Brito ao lado de Ica Pires, no intervalo dos ensaios,
na década de 70, da peça "Rafameia" de autoria do autor
. 



Ela tinha uma força interior impressionante. Entrava no palco, olhava para o público e, serenamente, ia dando o seu recado, interpretando os jogos cênicos da milenar arte do grego Aristófanes, do romano Plauto, dos brasileiros em geral, Martins Pena, Augusto Boal e Nelson Rodrigues e dos paraibanos em particular, Fernando Teixeira, Tarcísio Pereira, Ednaldo do Egypto e Zezita Matos. Às vezes, em lágrimas, extravasava tristeza, comovendo a todos; de outras explodia em alegria, levando ao riso a às gargalhadas, em reações que impressionavam pela forma como conseguia, numa empatia muito particular, trazer as pessoas para aquele mundo de dramas e comédias que ela construía como se dele fosse parte, como personagem de alguma ficção ou de fatos que, pela semelhança, se confundiam com a pura realidade contemporânea. Foi uma das maiores atrizes da Paraíba, do Nordeste e do Brasil. É uma pena que não tenha ultrapassado as fronteiras do nosso Estado com a sua arte. Sendo uma pessoa socialmente bem resolvida, esposa de um grande médico (Dr. Valdemar) de enorme clientela, preferiu restringir o seu espaço ao sertão paraibano até que a morte a ceifasse prematuramente. O mais importante, porém, de sua existência e de sua veia artística, foi o legado que deixou a juventude de Cajazeiras durante três décadas, a quem se dedicou com uma paixão indômita, transferindo seus conhecimentos e formando novos autores, o que fazia com destemor. Infelizmente o tempo passa rápido e aquelas pessoas que marcaram época na nossa terrinha terminam caindo no esquecimento. É preciso que alguém se lembre de seus feitos para mostrar, eventualmente, aos que vão chegando, a importância de muitos que por aqui passaram e deixaram o seu rastro. Dona Ica foi uma dessas pessoas que, embora tenha sido lembrada para denominar o teatro de Cajazeiras (Teatro Íracles Píres), muitos não conhecem a sua história, aqui revelada numa singela pincelada deste breve comentário. Nesta foto ela esbanja alegria, a meu lado, na década de 70, durante o intervalo do ensaio de uma peça da minha dramaturgia, “Rafameia”, por ela dirigida e mostrada na visita do governador Ivan Bichara, filho de Cajazeiras.

DEIXE O SEU COMENTÁRIO





foto: a foto que ilustra essa postagem, pertence ao acervo de Gilvan  

Nenhum comentário: